O projeto Aldeias do Xisto partiu da simples ideia de dinamizar o turismo na Região Centro através do aproveitamento dos recursos naturais e humanos existentes nestes locais. Com o apoio deste programa as aldeias reinventaram-se e convidam todos a visitarem e descobrirem uma região que é um tesouro nacional.
No verão de 2019, decidimos partir à descoberta destas fantásticas aldeias, são muitas, são 27 agrupadas por regiões. Começamos por visitar as aldeias da Serra da Lousã, seguiram-se as da Serra do Açor, depois as aldeias da região do Zêzere e, por último, as da zona Tejo-Ocreza. Neste maravilhoso rol de aldeias, apesar de considerarmos que cada uma possui uma essência muito particular, recordamos com especial carinho, Água Formosa, Casal de São Simão, Talasnal e Cerdeira.
Património
Descobrir a arquiteturas destas casas, saber como surgiram os seus nomes, conhecer as pessoas, ouvir as suas histórias, compreender as suas crenças, observar como vivem e do que se ocupam, provar os pratos típicos, olhar em volta das pastagens verdes, conhecer a arte e os artistas é aventurarmo-nos no conhecimento e na valorização de uma região fantástica.
Cultura
A cultura, intrínseca de cada povo e decorrente de séculos de história, está patente em cada família, esquina e festa da aldeia. A cultura é feita também de eventos que promovem o conhecimento e que atraem participantes e espetadores, reforçando as formas tradicionais de animar o povo. Tem-se vindo a recuperar estes hábitos antigos.
Caminhos de Xisto e Centros de BTT
A envolvente natural fantástica proporciona o contacto com os Caminhos de Xisto, que são percursos pedestres de pequena rota. Os traçados destes circuitos acompanham muitas vezes antigos trilhos usados por moleiros, agricultores e mineiros.
Os Centros de BTT das Aldeias de Xisto são infraestruturas desportivas permanentes dotadas de equipamentos dedicados exclusivamente aos praticantes de BTT. Estes locais estão apetrechados com estacionamento, balneários, estação de serviços para bicicletas e oferecem uma rede de trilhos do tipo Crosscountry, DownHill ou FreeRide, com quatro níveis de dificuldade adequados a todos os tipos de utilizadores.
Gastronomia
Apostando nas tradições culinárias das Aldeias de Xisto, promoveu-se a criação da Carta Gastronómica das Aldeias de Xisto, rebuscando os cantos da memória dos habitantes destas aldeias, para se criarem 153 receitas típicas desta região.
Também os restaurantes das aldeias mantem a autenticidade e qualidade máxima no que diz respeito ao ambiente, arquitetura, decoração, preços, variedade de vinhos e animação.
Turismo Ativo
Existem infinitas possibilidades de lazer nas Aldeias de Xisto. Estas criaram um calendário de eventos anual diversificado e profundamente enraizado no que há de melhor e mais genuíno neste território.
Aqui há percursos pedestres e BTT, canoagem, DownHill, trail running, etc. Nas praias fluviais há torneios de voleibol e nas rochas escalada e rapel. Surpreenda-se ainda com os ciclos gastronómicos e recriação de tradições antigas. Desfrute de alojamento de excelência e restaurantes de alta qualidade. Acompanhe a mudança das estações, amasse o pão, vá com os rebanhos e faça o queijo, ouça a música e a poesia e veja teatro.
Localizada na transição do distrito de Coimbra para o de Leiria, a Serra da Lousã esconde tesouros fabulosos. A beleza das suas paisagens, a vertente cultural e humana das Aldeias do Xisto, fazem desta região, uma região única.
Região da Serra da Lousã
Gondramaz (Miranda do Corvo)
Gondramaz distingue-se pela tonalidade específica do xisto que envolve toda a aldeia, terra de artesãos cujas mãos hábeis dão forma a figuras carismáticas que são marcas da serra e que levam consigo o nome do mestre e da aldeia além-fronteiras.
Ao chegarmos à aldeia deparamo-nos com um poema de Miguel Torga, que se encontra numa placa metálica na área de receção. A partir dali a aldeia estrutura-se tendo por base uma rua principal da qual saem ruelas estreitas e sinuosas. Foi por ali, que também seguimos à descoberta de uma aldeia e das suas particularidades como, a Capela de Nossa Senhora da Conceição, a Alminha e o Lavadouro e Fontanário, uma aldeia que atualmente se enche de novos habitantes e na qual o ambiente é sempre animado, sobretudo, com as provas de BTT.
Numa envolvente florestal dominada por castanheiros, a que se juntam carvalhos e alguns azevinhos, os veados percorrem, discretamente, as encostas que rodeiam a aldeia. A Veronica micrantha, uma pequena e rara planta, refugia-se nas bermas dos trilhos. O azereiro marca presença nesta aldeia, acantonando-se junto da ribeira de Alheda.
Chiqueiro (Lousã)
Com uma forte ligação à religião, a aldeia foi em tempos considerada a mais importante da Lousã. A capela de Nossa Senhora da Guia sempre promoveu o contacto com as populações de Candal e Casal Novo, que ali iam, quer para rezar e contactar o pároco residente, quer para fazer a romaria à Senhora da Piedade e a Santo António da Neve.
A aldeia é delimitada por duas pequenas linhas de água e quase nos passou despercebida pela frondosa vegetação que a envolve. Ao entrarmos na aldeia, apercebemo-nos de que possui uma malha urbana simples, basicamente organizada por duas ruelas íngremes ladeadas pelo casario, cujos destaques vão para a Capela de Nossa Senhora da Guia, a inscrição religiosa e para o miradouro. O material de construção predominante é um xisto escuro, e, à exceção da capela, nenhum outro edifício é rebocado. Para além de muito pequena, atualmente a aldeia encontra-se praticamente desabitada, restam apenas dois habitantes.
Quanto à fauna, há azevinhos e os soutos. Os veados, corços e javalis são abundantes e facilmente observáveis nesta zona, apesar de não termos visto nenhum. Daqui partem duas pequenas linhas de água ao encontro da ribeira da Vergada, que corre, encosta abaixo, passando ao lado do Talasnal, a caminho da ribeira de S. João.
Talasnal (Lousã)
Aqui, as casas encostam-se umas às outras e uma fonte canta alegremente à entrada na aldeia. É o cenário ideal para ver os lagares de azeite, a Alminha, e saborear os Talaniscos, bolinhos de mel e castanha, cuja autora é Mirita Meira Santos, e os Retalhinhos, pastéis, feitos à base de castanha e amêndoa, criados por Maria José, proprietária da Casa da Urze e do Retalhinho.
Está é a Aldeia do Xisto que tem mais visibilidade e talvez uma das mais bonitas do conjunto da Serra da Lousã, quer pela sua dimensão e disposição, quer pelos muitos pormenores das recuperações das suas casas.
Descemos a ruela principal da aldeia que acompanha o declive da encosta, num percurso íngreme e vertiginoso, da qual saem quelhas e becos, que nos criou um ambiente de descoberta surpreendente. O material de construção predominante é o xisto, de tons escuros, e a quase totalidade das fachadas dos edifícios não possui qualquer reboco.
O Talasnal é casa de veados, javalis e corços que espreitam por entre sobreiros, castanheiros, carvalhos e, claro, pinheiros.
A aldeia é atravessada por inúmeros trilhos pedestres/BTT e por caminhos que vão em direção ao St. António da Neve, ao Alto do Trevim, ao Castelo da Lousã, à Sra. da Piedade e às praias fluviais.
Atualmente, todos os primitivos habitantes já partiram e, entretanto, casas foram transformadas em segunda habitação, em unidades de alojamento ou estabelecimentos comerciais.
Casal Novo (Lousã)
Um pouco escondida, numa envolvente floresta, dominada por veados e corços, a aldeia estrutura-se pela encosta abaixo a partir da estrada com um declive acentuado e envolvida numa malha arbórea intensa. Foi a partir dali, que descemos por um caminho que atravessa a aldeia no sentido ascendente-descendente e que a liga ao Santuário de Nª Srª da Piedade. Existem depois duas ou três vielas perpendiculares, e umas quantas entradas laterais que nos levaram à descoberta da Fonte, do Tanque e da Eira. O material de construção predominante é o xisto, muito escuro e em aparelho tosco, as fachadas não tem qualquer reboco.
Como a maior parte das aldeias da Serra da Lousã, atualmente, quase todas as casas de Casal Novo são de segunda habitação. Os novos habitantes da aldeia empenham-se na conservação e renovação. A criação de uma Associação de Recuperação do Casal Novo é disso testemunho. Preservar características arquitetónicas originais, melhorar as condições de vida na aldeia e promover a defesa das condições ambientais da zona envolvente são algumas das suas preocupações.
Cerdeira (Lousã)
Ao chegarmos à Cerdeira, uma pequena ponte convida-nos a conhecer um amontoado de casas que espreitam por entre a folhagem. A inclinação do terreno acentua a sensação de descoberta, e obrigou-nos ora a subir, ora a descer, para descobrir encantos como, a fonte construída em 1938, a alminha dedicada ao Senhor dos Aflitos e a Casa das Artes e Ofícios, recentemente, reconstruída para albergar iniciativas de turismo criativo e artístico.
Os edifícios foram implantados sobre um morro rochoso em forma de socalcos que seguram a terra. O material de construção predominante é um xisto escuro e nenhuma fachada se encontra rebocada.
A Cerdeira é um local mágico, lindo, perfeito, um cenário romântico e ao mesmo tempo bucólico. Uma aldeia em que a arte e a criatividade caminham de mãos dadas.
A aldeia é, atualmente, um local de criação através de residências artísticas internacionais, da realização de workshops de formação e de pequenas experiências criativas. Um retiro de artistas, de bem-estar, com infraestruturas para isso: os alojamentos, a Casa das Artes, os ateliers, a biblioteca, a galeria, o forno comunitário e o Café da Videira.
Candal (Lousã)
Com uma localização privilegiada junto à Estrada Nacional, Candal é quase sempre considerada como a mais desenvolvida das aldeias e uma das mais visitadas.
O cenário é deslumbrante. A aldeia parece estar instalada numa espécie de anfiteatro natural por onde corre a ribeira de S. João com uma malha urbana irregular e complexa. O material de construção predominante é o xisto, com fachadas sem reboco, evidenciando um aparelho tosco. As casas junto à estrada são de construção mais moderna, com fachadas rebocadas e pintadas de cores garridas, mas que respeitam o traço dominante na aldeia.
Subimos as suas ruas inclinadas até ao miradouro, contemplamos a belíssima vista sobre o vale, no regresso visitamos a Loja Aldeias do Xisto, o Chafariz do Candal, a Alminha e observamos o património natural, no qual sobressaem os sobreiros, os castanheiros, os azereiros e azevinhos onde se refugiam alguns troços das linhas de água e alguns moinhos hidráulicos. Um pouco mais afastado do núcleo central, avistamos a antiga Escola Primária, construída em 1920 graças às remessas de divisas enviadas pelos candalenses emigrados nos EUA.
Comareira (Góis)
A aldeia da Comareira surpreende por ser tão pequena, mas ao mesmo tempo por ter umas vistas fabulosas. Com sol todo o dia, as poucas casas aninham-se umas nas outras, num pequeno grupo de construções, para habitantes e gado doméstico.
O xisto e o quartzito são os materiais de construção predominantes, embora algumas fachadas dos edifícios estejam revestidas com um característico reboco crespo.
Por ser muito pequena, não há muito para ver. Demos um pequeno passeio, durante o qual apenas nos cruzamos com alguns cães e desfrutamos do sol e das vistas.
Aigra Nova (Góis)
A aldeia ergue-se no cimo de um monte, logo a seguir à aldeia da Comareira. Paramos o carro e deixamo-nos acolher pelo Centro de Convívio e pela Loja Aldeias do Xisto. A simpatia é contagiante, por isso ficamos um pouco à conversa. Percorremos algumas das ruelas e ficamo-nos um pouco mais pela Maternidade das Árvores.
A aldeia é de malha urbana simples, com uma rua que se divide em três pequenas ruas que a atravessam e se encontram na saída pelo acesso do lado oposto. O material de construção que domina é o xisto, com algumas construções rebocadas e que incluem dois pisos. Depois de alguns minutos de conversa com as gentes da terra, demos um passeio pelas agradáveis ruelas da aldeia e fomos conhecer a Maternidade das Árvores. Trata-se de um espaço de Educação Ambiental onde é possível conhecer e participar no processo de reprodução de espécies autóctones (plantas, arbustos e árvores), participar em atividades, fazer apadrinhamentos e contribuir para campanhas de plantação de árvores.
No final da visita, constatamos que a aldeia tem bastante dinâmica, há hortas, há gado, há atividades e há pessoas.
Aigra Velha (Góis)
Nesta aldeia ainda é comum ouvirem-se histórias antigas de caravanas de comerciantes que vagueavam pela serra e paravam para pernoitar. Ficamos também a saber que por aqui andaram lobos, o que obrigou a uma curiosa disposição das habitações na povoação: a única rua era fechada e as casas ainda têm ligações interiores entre si.
A aldeia é pequena, mas com uma malha urbana complexa, por causa das relações familiares e comunitárias que se estabeleceram entre os habitantes. As habitações possuem apenas nível térreo e organizam-se num arranjo defensivo contra as intempéries meteorológicas e os intrusos.
Cada cozinha tinha um esconderijo, entre a cozinha e os currais, que servia para esconder alimentos considerados excedentes pelos fiscais do Estado Novo. Tinha também uma gateira, um buraco na parede para a passagem dos gatos e um caniço, estrutura localizada acima da lareira ou do fogão, que servia para fumar as castanhas.
Para além destas particularidades interessantes que conferem identidade à aldeia, vimos o Forno e Alambique da Família Claro, o Tanque e a encantadora Fonte, localizada à entrada da aldeia.
Pena (Góis)
Com os imponentes Penedos de Góis a servirem de pano de fundo, a pequena aldeia da Pena surge num profundo vale da serra.
A aldeia possui uma única rua, com várias pequenas quelhas. Os materiais de construção predominantes são o xisto e o quartzito, algumas fachadas estão rebocadas e pintadas com cores tradicionais. Entretanto, foram construídas algumas casas de características mais recentes.
Alguns dados mostram que esta povoação já existia no séc. XVI, dado que no “Cadastro da população do Reino (1527)” consta no termo da villa de Goys a existência da aldeia onde viviam cinco moradores.
No que diz respeito ao património natural não podemos ficar indiferentes ao monumental castanheiro junto à ponte sobre a ribeira da Pena, nas margens da qual, para montante e jusante, abunda o azereiro. Para além deste ex-libris, vimos moinhos de água, uma Alminha, um Alambique e um bonito Fontanário.
Ferraria de São João (Penela)
Esta aldeia assiste a uma recuperação das antigas tradições, festas populares e religiosas, nas quais todos se envolvem, conjugando atualmente, ruralidade e turismo ativo.
O material de construção predominante é o quartzito, embora algumas fachadas dos edifícios se encontrem rebocadas e pintadas de branco. Ao percorremos a aldeia demos conta de que esta possui uma série de infraestruturas que em muito a valorizam, um Centro de BTT, um FunTrail para os mais pequenos e muitos trilhos na Natureza.
A aldeia possui ainda um magnífico sobreiral centenário, um conjunto de currais tradicionais e um Caminho do Xisto.
Um dos projetos de maior sucesso da aldeia está a ser promovido pela Associação de Moradores e tem a ver precisamente com o Sobreiral. A Associação de Moradores tem vindo a adquirir sobreiros com o intuito de os preservar e manter o espaço como público e para usufruto de todos. Para financiar não só a aquisição, mas principalmente a sua manutenção e gestão, foi lançado então um programa de adoção para 9 anos, cujas vantagens para o adotante são a possibilidade de personalizar o seu sobreiro com 3 símbolos, direito de opção sobre 50% do valor da venda da cortiça do sobreiro, usufruto da sombra do sobreiro, oferta de mensalidades de associado, participação na atividade anual dos adotantes, contributo para a gestão do sobreiral e diploma de adoção. As árvores foram divididas nas tipologias pequeno, médio e grande, tendo em conta o tamanho e a idade, sendo que o valor da adoção corresponde a €40, €60 e 80 euros. Para adotar basta enviar um email para associacaofsj@gmail.com
Numa panóplia imensa de coisas a fazer e a ver, o destaque vai para a Capela de São João, para a Alminha encastrada no muro na rua que desce para o centro da povoação, o conjunto de currais, um dos mais numerosos que ainda existe em Portugal onde em tempos se guardavam mais de mil cabeças do rebanho comunitário e a Eira.
Casal de São Simão (Figueiró dos Vinhos)
Esta é uma aldeia recuperada por pessoas da cidade que ali passavam férias e fins de semana. Assim, das mãos de um conjunto de amigos, estão a nascer em Casal de São Simão projetos para o futuro das Aldeias do Xisto.
A aldeia é pequena e traduz-se praticamente numa só rua. Situa-se num dos flancos da crista quartzítica que dá origem às Fragas de São Simão e possui o templo mais antigo do concelho de Figueiró dos Vinhos. O material predominante é o quartzito, decorrente da implantação do povoado na lateral de uma crista onde o mesmo predomina.
Local de lendas e de superstições, Casal de S. Simão era local de pecuária e de pesca, contando também, já no séc. XIX, com múltiplos lagares de azeite e moinhos de vento, aproveitando a sua posição cimeira.
Rica em fauna com aves como a águia-real e em flora com castanheiros frondosos, carvalhos e azevinhos, esta é uma das aldeias mais bonitas da Rede das Aldeias do Xisto. A vista panorâmica sobre as colinas em redor, a praia fluvial fantástica junto à impressionante fraga granítica de São Simão e, os mais recentes passadiços das Fragas de São Simão, são os ex-libris da aldeia.
Região da Serra do Açor
Sobral de São Miguel (Covilhã)
Povoado muito antigo, cuja origem remonta à era romana e esteve sempre associada à Rota do Sal, às antigas rotas comerciais. Os seus habitantes denominam a aldeia como o “Coração do Xisto”.
As casas tradicionais possuem uma arquitetura simples, com balcões e varandas soalheiras, normalmente sombreadas por videiras.
Percorremos as longas ruelas da aldeia até à Igreja Matriz de Sobral de S. Miguel com a torre sineira erguida no ano de 1937. A aldeia também tem uma capela em homenagem a Santa Bárbara, mandada erigir pelos mineiros em 1938.
Passámos pelo lagar de azeite, o moinho e pelos vários fornos comunitários, à descoberta dos pequenos tesouros escondidos da aldeia. Subimos ainda os montes circundantes e apreciamos a paisagem.
Aldeia das Dez (Oliveira do Hospital)
Esta aldeia está localizada num alto, sobranceira ao rio Alvoco. Por causa da sua localização é apelidada de “Miradouro Demorado”, pois possui uma vista privilegiada para as serras envolventes. Aqui, cada casa, cada rua e cada largo é um miradouro, onde desfrutamos da maravilhosa paisagem.
A Aldeia das Dez possui um património impressionante, com destaque para a Igreja Matriz, cujo interior está decorado com vistosa talha dourada, juntamente com esculturas e pinturas que embelezam o interior do edifício.
Os encantos da aldeia também residem nos bolos tradicionais, os coscoréis e cavacas confecionadas à moda da Aldeia das Dez, bem como o licor de medronho, cujo fruto é abundante na zona.
A Calçada Romana, a Casa Quinhentista, a Casa da Fábrica, a Casa do S, a Capela de Nossa Senhora das Dores, a Fonte do Soito Meirinho e a Fonte do Marmeleiro são pontos de visita obrigatório, bem como o Cruzeiro do Largo da Fonte, construído em 1661 e restaurado em 1960, também é algo que vale a pena visitar. Ali, as “Pequenas” ficaram encantadas com a cabine telefónica, muito ao estilo londrino, que existe na aldeia. Ali experienciaram, pela primeira vez, fazer uma chamada a partir de uma cabine telefónica. Um divertimento, uma experiência engraçada.
Vila Cova de Alva (Arganil)
É uma nobre aldeia marcada pela dimensão dos seus edifícios e espaços públicos e que possui o maior conjunto monumental, onde outrora existiu um convento.
Começámos a visita pelos espaços públicos da aldeia, como o Largo da Igreja Matriz e do Pelourinho, onde coabitam dois solares do séc. XVII, o Solar dos Condes da Guarda, o Solar Abreu Mesquita, o edifício dos Osório Cabral e ainda a Rua Quinhentista.
Vila Cova de Alva é uma aldeia de apreciável dimensão, cujo material de construção predominante é o xisto, e que recorre ao granito para os elementos nobres das construções.
O rio que passa no fundo, impressiona pela sua limpidez, pela frescura e pela beleza envolvente. As serranias em redor convidam a um passeio na sua luxuriante vegetação.
Benfeita (Arganil)
Benfeita é terra de hortas, pecuárias e olivicultura.
Terra de hortas, pecuária e olivicultura, esta é uma das “aldeias brancas” da Rede das Aldeias do Xisto. É a única aldeia no mundo que exalta a paz com uma torre, um sino e um relógio, que celebra, todos os 7 de maio, o fim da II Guerra Mundial com 1 620 badaladas, uma por cada um dos dias que durou a neutralidade portuguesa.
Percorremos as ruas e sentimos a frescura das duas ribeiras, a do Carcavão e a da Mata. No recuperado moinho do Figueiral e alambique, ainda é possível ver como antigamente se aproveitava a força da água. Do outro lado da rua, passámos pela Igreja Paroquial, pelo atelier da Feltrosofia, onde se fazem artesanalmente peças de feltro com um design inovador e pelo centro documental, na recuperada Casa Simões Dias.
Maior que o tamanho da aldeia, é a religiosidade da sua população visível nas inúmeras capelas e alminhas ali existentes, como a Capela de Santa Rita, a Capela de Nosso Senhor dos Passos, a Capela de Nossa Senhora da Guia e a capela de São Bartolomeu.
A aldeia de Benfeita está situada bem perto da lindíssima Mata da Margaraça, Reserva Natural e Reserva Biogenética do Conselho da Europa, um espaço raro de vegetação original das encostas xistosal, com sobreiros, castanheiros, aveleiras, cerejeiras e nogueiras. Também a Fraga da Pena, com quedas de água e vegetação muito próprias, é uma zona igualmente notável, que merece uma visita prolongada. Nós deliciámo-nos com a frescura e com a tranquilidade do local, para além da própria queda de água.
Fajão (Pampilhosa da Serra)
Antiga vila, encaixada numa vertente da serra, a alguns metros de altitude, entre gigantescos penedos de quartzito, sobre o rio Ceira, com uma vista absolutamente arrebatadora, num cenário de paz e tranquilidade.
A aldeia exibe casas em xisto, as quais foram recentemente requalificadas para obterem uma atmosfera mais pitoresca. A partir do adro da igreja, passeámos pela malha urbana complexa, para apreciar a ligação entre o xisto e as madeiras, a cor das paredes, os telhados em lousa e as carpintarias de linhas sóbrias. Vale a pena apreciar as aldrabas, os postigos e cercas, as cimalhas e as paredes curvas, as fontes ou as varandas, são de uma beleza notável. Passamos ainda pelo Museu Monsenhor Nunes Pereira, local onde aprofundamos um maior conhecimento sobre a história da aldeia, apreciando ao mesmo tempo obras de arte feitas em xisto, pela antiga Casa da Câmara, tribunal e cadeia, atualmente convertida numa unidade de alojamento mantendo a sua planta original, pelo lavadouro e pela fonte velha, de novo, junto à igreja matriz.
Região do Zêzere
Mosteiro (Pedrógão Grande)
A aldeia situa-se no fundo de um vale, junto a um curso de água que antigamente assegurava a subsistência das gentes da aldeia. Hoje, é sinónimo de lazer e a razão perfeita para uma visita prolongada, sobretudo, no verão.
A água e a agricultura são, portanto, os elementos presentes no desenvolvimento de Mosteiro, através da criação de hortas e moinhos que sustentam a população da aldeia. Os moinhos, as levadas, os lagares e regadios que serviram como infraestruturas-base durante séculos são pontos de visita obrigatória. De entre todos os cursos de água do concelho de Pedrógão Grande, a ribeira de Pera assumiu especial importância na implementação de fábricas têxteis, lagares de azeite e moinhos. É nesta ribeira que está também localizada uma maravilhosa praia fluvial que faz as delícias dos veraneantes.
Foi ali, que passamos grande parte do tempo quando visitamos a aldeia, contudo, também nos perdemos por entre o casario e as ruelas que se cruzam a cada virar de esquina, passando pela Capela de São Pedro e terminando num pequeno café, onde apreciamos, sobretudo, a simpatia das gentes da terra.
Pedrógão Pequeno (Sertã)
Pedrógão Pequeno é uma antiga vila, localizada junto à margem esquerda do Zêzere. No seu património há a destacar a igreja matriz e a ponte filipina sobre o Zêzere. Em Pedrógão Pequeno o xisto esconde-se sob rebocos alvos. Esta é uma das “aldeias brancas” da Rede das Aldeias do Xisto.
A aldeia possui uma série de tesouros arqueológicos que exploramos, um troço de calçada romana que conduzia a um ramal de acesso a um castro da Idade do Ferro, uma muralha castreja plena de vestígios ainda por estudar, um conjunto de estelas discoides que podem representar a crença na vida além-túmulo. Vimos ainda o antigo Hospital da Misericórdia, o Pelourinho, a Via-sacra, alguns edifícios particulares de séculos passados, o Monte da Senhora da Confiança e a velha estrada que nos levou ao Zêzere sobre uma antiga ponte Filipina que contrasta de forma extraordinária com a recente ponte do IC8.
Álvaro (Concelho de Oleiros)
A aldeia de Álvaro está localizada junto ao rio Zêzere, numa encosta na albufeira do Cabril. É considerada uma das “Aldeias Brancas” da Rede das Aldeias do Xisto, pois a maioria das fachadas dos edifícios está pintada de branco.
Ao entrarmos na aldeia, demos conta da ainda visível destruição provocada pelos devastadores incêndios de 2017. Muitas das casas que arderam, ainda se encontram em ruínas. Outra situação evidente que constatámos, e que depois foi confirmada pela D. Raquel Freire, que gentilmente nos guiou pela aldeia, foi o despovoamento a que a aldeia assistiu e assisti, provocada pelos incêndios.
A aldeia é muito rica em património religioso, nomeadamente através dos inúmeros vestígios da Ordem de Malta. Nesta aldeia o destaque vai para o circuito das Capelas, são sete, Santo António, S. Sebastião, Nossa Senhora da Nazaré, Igreja da Misericórdia, S. Gens, Nossa Senhora da Consolação e S. Pedro, das quais cinco estão situadas dentro da povoação e duas na zona envolvente. No interior de cada uma delas existe um admirável acervo religioso, as quais incluem importantíssimas obras de arte sacra, como uma imagem do Senhor dos Passos, um Sacrário Renascentista e S. João Evangelista.
No sopé da aldeia, localiza-se a albufeira da barragem do Cabril e as suas infraestruturas fluviais, um lugar muito bonito para contemplar a Natureza. Os meandros do rio Zêzere, um dos geossítios do Geopark Naturtejo classificado pela UNESCO, transformam este local num dos mais belos vales fluviais de Portugal.
Janeiro de Baixo (Pampilhosa da Serra)
Contornada pelo rio Zêzere, Janeiro de Baixo surge num vale muito bonito adornado por extensos pinhais. O núcleo central da aldeia, a sua igreja e capelas, sentem a envolvência do rio que por ali passa e a contorna.
Dentro da aldeia há um conjunto de pontos de interesse, quer religiosos, quer arquitetónicos, passando pelas recentes infraestruturas para acolher os visitantes, até à antiga memória do “Tronco”, lugar onde antigamente se ferravam os animais, foram muitos os pontos de interesse que conhecemos, como, a Fonte de Mergulho, a Alminha, o Moinho escavado na rocha, os fornos tradicionais e a magnífica zona de lazer com praia fluvial, parque de campismo e todo o tipo de atividades.
Janeiro de Cima (Fundão)
Ao entrarmos na aldeia deparámo-nos com uma malha urbana complexa com ruas sinuosas em que as casas apresentam fachadas em xisto, com seixos redondos e brancos provenientes do rio, aqui e ali. As primeiras casas foram construídas na zona circundante da Igreja Velha, de onde saem as ruas estreitas e orgânicas, de fisionomia própria, numa estrutura medieval de grande interesse patrimonial.
Num passeio pelas ruas de xisto passamos pela Igreja Nova, um templo recente, pela Capela do Divino Espírito Santo, fundada no século XVI, pelas capelas de Nossa Senhora do Livramento, de São Sebastião e pelos vários edifícios particulares dos séculos XVII-XVIII. Fomos ainda conhecer a Casa das Tecedeiras e maravilhamo-nos com as casinhas e os seus balcões floridos que testemunham uma primitiva utilização habitacional do piso superior, enquanto o piso inferior serviria para alojar animais e alfaias. Por últimos, fomos até ao Parque Fluvial da Lavandeira, um local fantástico de lazer junto ao rio Zêzere com zona de merendas e um bar de apoio, um espaço muito aprazível, no qual nos retivemos por um bom bocado.
É assim em comunhão com a Natureza e as raízes familiares, que Janeiro de Cima se enche de gente aos fins de semana e nas férias para fazerem piqueniques no pinhal, aproveitarem a frescura da água no Parque Fluvial, praticarem BTT, canoagem ou escalada.
Barroca (Fundão)
A aldeia de Barroca, sobretudo a zona mais antiga, está localizada ao longo de um pequeno morro, junto ao rio Zêzere.
É nesta aldeia que está localizado o Centro Dinamizador das Aldeias do Xisto, num antigo solar do séc. XVIII, que também alberga um Centro de Interpretação deste património da Arte Rupestre do Pinhal Interior, um espaço que nos acolheu e nos lançou à descoberta da aldeia e arredores.
O material de construção predominante é o xisto, embora alguns edifícios estejam rebocados e pintados de branco. Existe um número significativo de construções aristocráticas dos séculos XVIII e XIX, de maiores dimensões, integralmente em xisto, pouco comum na rede das Aldeias do Xisto.
A este património há a juntar notáveis exemplares religiosos como as capelas de Nossa Senhora da Rocha, São Romão, São Roque e Nossa Senhora da Agonia.
A paisagem circundante é dominada pelo pinhal e pelas pirâmides das escombreiras da Lavaria do Cabeço do Pião, que já pertenceram às Minas da Panasqueira.
Num fantástico passeio pela aldeia, ficamos a conhecer o Lavadouro, o Chafariz dos Namorados, a Fonte Ribeira da Bica, o Cantinho dos Palermas, ponto de encontro batizado pelos habitantes e a Casa Grande Edifício Senhorial da Família Fabião. A acrescentar a este património edificado, são pontos de visita obrigatório as pontes pedonais que atravessam o Zêzere, uma mais antiga e rústica e uma mais recente em estrutura metálica, o açude e o moinho hidráulico junto ao rio, bem como toda a zona fluvial.
Água Formosa (Vila de Rei)
Água Formosa é, antes de mais, formosa. O nome, de facto, não podia estar melhor atribuído. A aldeia localizada numa encosta do concelho de Vila de Rei e esconde-se, entre a ribeira da Corga e a ribeira da Galega, numa encosta. Nesta pacata localidade são ainda visíveis os vestígios das tradições antigas, como os vários fornos a lenha espalhados pela aldeia, mas também evidências de tradições ligadas à utilização da força da água.
Nesta aldeia fomos cativados pela simpatia dos habitantes, pelo caminho calcetado que nos levou à fonte de água puríssima e pelo passeio que fizemos pelas estreitas ruelas até à pequena ribeira, local onde habitam cágados e mesmo lontras, o feto-real (Osmunda regalis), um dos maiores fetos que ocorrem em Portugal, com grandes e lindas frondes, podendo atingir mais de um metro de comprimento. Vimos ainda a Eira dos Réis, um local onde, no final do verão, se secam os cereais, vimos os fornos a lenha que ainda se encontram em funcionamento, e três azenhas.
Esta é uma aldeia que vive de esperança. Tem poucos habitantes residentes, mas em breve existirão mais. Vêm atraídos pelo som da água a Correr na Ribeira das Galegas e pela sincera simpatia dos vizinhos.
Sarzedas (Castelo Branco)
Sarzedas distingue-se pelos traços de cor que lhe marcam as fachadas das casas rebocadas a caminho da fonte da Vila. No alto de São Jacinto, junto à Igreja Matriz, o Campanário ergue-se solitário sobre a aldeia. Está-se bem aqui, neste espaço de leitura modernas, a pensar na história deste lugar cujo povoamento se deve a D. Gil Sanches…
Sarzedas foi implantada na paisagem da charneca, próxima da serra do Muradal, no concelho de Castelo Branco. Trata-se da única aldeia do xisto que teve um título nobiliárquico atribuído. O título de Conde de Sarzedas foi criado em 1630, por Filipe III, e utilizado por vários titulares. Os Condes de Sarzedas tiveram a sua moradia no Palácio da Palhavã, em Lisboa, edifício hoje ocupado pela Embaixada de Espanha.
Antiga vila e sede de concelho, distingue-se pelos traços de cor que lhe marcam as fachadas das casas rebocadas a caminho da fonte da vila.
Num breve passeio pela aldeia, passamos pelo seu pelourinho, pelo largo, pelas igrejas e pelas capelas. No Alto de São Jacinto, junto à igreja Matriz, existe um campanário com a sua torre sineira, o qual também fomos conhecer.
Figueira (Proença-a-Nova)
Localizada no concelho de Proença-a-Nova, Figueira é uma aldeia praticamente plana e de fácil circulação cujo material de construção predominante é o xisto, embora algumas fachadas dos edifícios estejam rebocadas e pintadas. Existe um padrão construtivo na utilização do xisto que distingue esta das outras Aldeias do Xisto: muitas ombreiras das portas são irregulares e em alguns muros constatamos um pouco comum assentamento vertical do xisto. Os quintais são delimitados por lajes de xisto espetadas na vertical.
A circundar a aldeia, os tons de verde indicam a forte presença de oliveiras que dão origem ao “ouro verde”, outrora a riqueza da aldeia.
Com forte presença de múltiplos pormenores da arquitetura tradicional, a aldeia possui hortas, quintais, arrumos agrícolas, currais e capoeiras, é portanto, uma aldeia viva ainda com ritmos verdadeiramente rurais.
Aqui nasce a ribeira da Figueira, que aflui à ribeira das Moitas, a qual, depois se junta ao rio Ocreza e este ao Tejo.
Durante o passeio pela aldeia apercebemo-nos que as figueiras são muito frequentes, não sendo, por isso, despropositado ligar-se o nome da aldeia a esta árvore. Fizemos uma pequena pausa na Loja das Aldeias do Xisto, um espaço com variada gama de produtos e pão cozido em forno de lenha. É aqui que também funciona o restaurante Casa Ti’Augusta e, de seguida, passamos ainda pela Casa da Família Balau, o edifício do século XIX mais notável da aldeia, e pelo forno comunitário, onde ainda se coze o pão.
Martim Branco (Castelo Branco)
A aldeia ficou assistiu durante muitos anos ao partir das suas gentes, tendo assim permanecido muito tempo, até que, há alguns anos, despertou desse abandono.
A aldeia de Martim Branco é uma pequena aldeia localizada no concelho de Castelo Branco, num terreno de variados relevos, ora altos ora baixos, ora estreitos ora largos, ora arredondados ora bicudos.
Algumas casas testemunham o raro casamento do xisto com o granito, união de materiais que garante a qualidade e a perenidade dos imóveis. As portas ostentam belas e vistosas ferragens.
Não possui qualquer património construído do tipo religioso ou cultural e desenvolve-se a partir de duas vias – a Rua Principal e a Rua da Bica –, apresentando uma configuração longitudinal.
Os fornos comunitários são os elementos mais interessantes em Martim Branco e o processo da sua recuperação tem contribuído para uma nova vida comunitária na aldeia. Ao longo da ribeira de Almaceda abundam essências florestais comuns em quase toda a Beira Baixa: o pinheiro, o sobreiro, a azinheira e a oliveira. A fauna é variada: raposas, coelhos, lebres, perdizes, tordos, tentilhões, pintassilgos, codornizes, cucos e cotovias.