Em setembro de 2020, fomos conhecer uma das regiões raianas do país. Estamos a falar de Campo Maior, um concelho localizado no distrito de Portalegre, bem próximo da fronteira com Espanha.
Como tantas outras localidades alentejanas, Campo Maior é uma pacata e muito tranquila vila que, segundo dizem, teve origem na vontade de três famílias de camponeses que resolveram juntar-se para formar uma povoação e se protegerem mutuamente.
O nome da vila advém dos romanos (Campus Maior) a qual foi mantendo a memória da posterior ocupação muçulmana nas casas caiadas, com toques de azul e de ocre. Inicialmente a vila pertenceu ao Bispado de Badajoz e só mais tarde, com o Tratado de Alcanizes, foi integrada em território português, mas sempre mantendo uma relação muito próxima com Badajoz.
As origens de Campo Maior são bem remotas, existindo mesmo uma curiosa lenda que reza que, por ser uma região muito assediada pelos Mouros, mesmo depois de reconquistada pelos Cristãos, Campo Maior foi escolhido por um grupo de pessoas para ali se abrigarem. Ao avistarem este terreno amplo terá dito o sábio do grupo: “Aqui será o nosso Campo Maior! Nele poderemos caber à vontade e dele faremos um reduto contra os nossos inimigos!”.
Vários episódios marcaram a história do concelho e do Alentejo, que, no século XVII, chegou mesmo a ser o mais importante centro militar da região, a seguir a Elvas. Em 1732 a vila foi muito danificada devido a uma grande explosão num paiol, fazendo mais de um milhar de mortos, tendo sido feito posteriormente reconstruída.
O Património de Campo Maior é testemunho vivo desta história, como se pode observar pelo Castelo, pela bela Igreja Matriz com a Capela dos Ossos, construída após a grande explosão catastrófica do paiol da Torre de Menagem do castelo, pela Igreja de São João Baptista, também ela muito modificada após a explosão, ou pela Praça da República com o seu Pelourinho, ou pelo Convento de Santo António, do século XVIII.
A população desta vila é conhecida pelo seu carácter festivo e, no ano em que a vontade de todos coincide, realizam uma das festas populares mais interessantes do país, a Festa das Flores, também conhecida como Festa do Povo, durante a qual os moradores se juntam para enfeitar as ruas com flores de papel em composições alegre e coloridas. Normalmente, esta festa acontece na primeira semana de setembro.
Para Ver
Porta da Vila
A Porta da Vila, também conhecida como Portas de Santa Maria é uma das principais portas de entrada na vila localizadas na muralha que circunda a mesma. A porta, de grande altura, é de uma beleza única e uma lembrança grandiosa de outros tempos.
Castelo de Campo Maior
O castelo de Campo Maior, foi mandado construir por D. Dinis, por volta de 1310, como forma de reforçar as defesas fronteiriças.
Em meados do século XVII, a fortaleza foi alterada para a utilização de artilharia e construídas novas linhas de defesa, que transformaram a povoação numa praça-forte.
Em 1732 foi bastante danificado por um raio caiu sobre o paiol, provocando uma explosão seguida de incêndio, que para além dos danos no castelo, devastou uma boa parte das habitações existentes à sua volta. Depois deste desastre, D. João V, decretou a sua reconstrução.
O castelo tinha inicialmente seis torres, mas apenas restam duas, existe ainda parte do fosso, a cerca da vila é reforçada com sete torreões, os antigos aquartelamentos têm utilização civil.
Atualmente, está classificado como Monumento Nacional, tem vindo a ser alvo de obras de conservação e restauro pelo que se encontra encerrado.
Igreja Matriz de Campo Maior
A Igreja Matriz foi construída em 1646, com o objetivo de receber a população já demasiado numerosa para a Capela de Santa Clara, dentro do Castelo. Tem fachada tripartida e, no interior, possui artefactos, como adornos bordados a ouro do século XVI.
Capela dos Ossos
A Capela dos Ossos, uma das três que existem em Portugal, localiza-se ao lado da Igreja Matriz. A igreja foi construída em 1766 e o seu interior é composto por ossadas humanas e serve de homenagem à população de Campo Maior que pereceu na catástrofe de 1732, quando o rebentamento de um paiol de pólvora provocou a morte de mais de metade dos habitantes da localidade.
Museu de Arte Sacra
Localizado na Capela de Nossa Senhora do Carmo o Museu de Arte Sacra, propriedade da Fábrica da Igreja da Freguesia de São João Baptista, reúne um importante acervo de pinturas, ourivesaria, imagens de Fé, mobiliário e obras de arte de diversas igrejas do concelho. Possui várias salas temáticas e o Jardim de Santa Bárbara.
Lagar Museu – Palácio Visconde d’Olivã
Inaugurado em 2005, o Lagar Museu, no Palácio Visconde d’Olivã, é um espaço dedicado à olivicultura e ao azeite, no qual é recriado todo o processo de produção e no qual também se oferece aos visitantes novas curiosidades e aprendizagens sobre o produto.
Museu Aberto
O Museu Aberto, situado no centro da vila, procura partilhar, sobretudo, o passado da localidade, das gentes de outros tempos à relação com Espanha.
Povoado Pré-Histórico de Santa Vitória
O Povoado Pré-Histórico de Santa Vitória, datado de 3000 a.C., localiza-se a cerca de 3Km da vila e trata-se de um local de interesse público e arqueológico. Perante a organização do solo, consegue-se identificar uma zona central na qual deveria funcionar como acrópole, ladeada por fossos e muralhas. O Povoado dispõe de informação teórica sobre o que ali foi encontrado. A subida à torre que se encontra junto ao povoado permite perceber melhor a organização do mesmo e oferece ainda uma vista fabulosa da região.
Centro de Ciência do Café
O Centro de Ciência do Café localiza-se próximo de Campo Maior, um museu único em toda a Península Ibérica. O espaço pertence à Delta Cafés, e possui áreas técnico científicos, atividades didáticas e de lazer que proporcionam uma experiência única.
“Ver, tocar, fazer e aprender misturam-se com os aromas da torrefação, despertando novas formas de aprendizagem para todas as idades.” É desta forma que se apresenta o Centro de Ciência do Café.
A visita ao Centro é uma viagem através do tempo e do espaço: conhecer os primeiros mitos que relacionam o café com as tribos ancestrais, as viagens ao ultramar a bordo das naus portuguesas ou acompanhar os contrabandistas que o transportavam de Portugal para Espanha.
Neste espaço é dado a conhecer todo o processo de produção, desde o cultivo à torra, os processos químicos que se desencadeiam, o aroma e o sabor de um bom café, como prepará-lo e descobrir a sua forma de consumo em todo o mundo, assim como a influência que este exerceu sobre as artes.
Adega Mayor
A Adega Mayor, edifício da autoria do arquiteto Siza Vieira, situa-se próximo ao Centro de Ciência do Café. É neste espaço, rodeado de vinhas e oliveiras, que se produz um magnífico néctar. O vinho, aliás, é uma das maravilhas do Alentejo. Uma visita guiada pela Adega Mayor, proporciona uma aprendizagem única de todo o processo de vinificação.
Aldeia de Ouguela
Ouguela é uma antiga povoação medieval a cerca de 9Km que merece uma visita.
Localizada num monte alcantilado, a cerca de 270 metros de altitude, Ouguela mantém o seu ambiente pacato e medieval desde há largos séculos.
A localidade terá ocupação Humana bem antiga, pensando-se que terá origens num povoado proto-histórico, posteriormente ocupado por Romanos, Visigodos e Mouros.
Nesta pequena aldeia, o destaque vai para o Castelo, que outrora foi praça-forte da região, e palco de confrontos entre portugueses e espanhóis. De facto, o Castelo de Ouguela foi um importante instrumento defensivo, nomeadamente durante a Guerra da Restauração, a Guerra de Sucessão de Espanha e a Guerra das Laranjas, sendo por diversas vezes atacado pelas forças Espanholas.
A própria localidade de Ouguela divide-se entre o interior e o exterior das muralhas defensivas do Castelo, como é visível na própria Igreja Matriz de Ouguela que está mesmo enquadrada na muralha defensiva da localidade.
Percorrer as muralhas e contemplar a paisagem circundante do alto das mesmas é simplesmente maravilhoso.
Barragem do Caia
Trata-se da maior albufeira do distrito de Portalegre, reúne excelentes condições para as mais diversas atividades de lazer, desporto e náuticas. A paisagem circundante também é maravilhosa e o sossego, esse, é uma constante.
Para Comer/ Para Ficar
Quando visitamos Campo Maior, não tivemos oportunidade de conhecer os restaurante e os alojamentos locais. Ficamos hospedados na cidade de Elvas, onde também fizemos as nossas refeições.