Por falar em locais “mágicos”, estivemos naquela que é conhecida pela “Aldeia Mágica”, Drave, uma aldeia perdida nas profundezas de um vale encaixado entre as Serra da Freita, Serra de São Macário e Serra da Arada, fazendo parte do Geoparque de Arouca.
Drave é magia, é misticismo, um mistério encantador por desvendar. Desabitada, sem eletricidade, água canalizada, gás, correio, telefone e telemóvel, a «Aldeia Mágica» tem, por outro lado, o encanto das casas de xisto a contrastar com o branco da capela, o murmúrio das águas da ribeira e um silêncio ensurdecedor maravilhoso.
A aldeia apenas é acessível a pé. Para aqui chegar existem duas possibilidades:
– A partir de Regoufe (PR14), num trilho de cerca de 4km. O percurso inicia-se junto à capela da aldeia de Regoufe, seguindo caminho pelo meio da povoação. Vira-se à esquerda no primeiro desvio, e continua-se por entre muros e um caminho até uma ponte sobre a Ribeira de Regoufe.
– A partir do desvio para a aldeia de Gourim, num caminho bastante acidentado e vertiginoso. Passa-se o desvio para a aldeia e ainda é possível, devagarinho, levar o carro um pouco mais abaixo, até um pequeno estacionamento de terra improvisado. A partir daqui o percurso inicia-se a pé. No total são cerca de 4km, 2km de carro e cerca de outros 2km a pé.
Nós fomos por Gourim, e depois de deixarmos o carro, iniciámos uma descida encosta abaixo. Passado algum tempo tivemos o primeiro vislumbre de Drave. Que visão. Drave faz jus à designação de “mágica”, pois não sabendo muito bem como explicar, aquele panorama transcende-nos para uma dimensão inexplicável, é mágico o que se sente.
Drave foi habitada até ao início deste século. Atualmente, não tem qualquer habitante permanente. A família Martins, das quais há registos em Drave desde 1700, foi uma das famílias mais numerosas da aldeia, e também a última a deixá-la. No entanto, a sua mística fazem com que a aldeia não fique esquecida, pois são cada vez mais os visitantes.
Ao chegarmos a Drave, fomos dar uma volta pela aldeia, passando pelas casas em ruínas, pela igreja, pelo Solar dos Martins, até à ponte sobre uma pequena ribeira.
Ao cruzarmos as duas margens da ribeira, fomos assolados por mais uma incrível visão, as fabulosas piscinas naturais de um azul indescritível que a Ribeira de Palhais ali criou.
Em Drave há uma festa anual, a Festa de Nossa Senhora da Saúde no dia 15 de agosto e que se continua a realizar todos os anos. A festa inclui uma eucaristia, seguida de uma procissão e um piquenique.
Em 2003 o Corpo Nacional de Escutas abriu em Drave a sua Base Nacional da IV, um centro escutista para caminheiros (escuteiros entre os 18 e os 22 anos).
Com forte componente ambiental e espiritual, este centro é já uma referência mundial, pertencendo às redes SCENES e GOOSE.
O CNE adquiriu cerca de 1/3 da aldeia em 1995 e começou os trabalhos de reconstrução em 2001 durante uma atividade denominada ROVER 2001.
Hoje em dia este centro recebe anualmente milhares de caminheiros portugueses e estrangeiros que não só participam nas atividades de reconstrução e manutenção da aldeia, como também noutras aproveitando o retiro e o isolamento que a aldeia proporciona.
Em 2014 foi editado o documentário “Uma Montanha do Tamanho do Homem” sobre Drave. A segunda edição foi lançada em Março de 2015.
No final da manhã foi tempo de regressar, fazendo o mesmo percurso. A subida foi longa e um pouco mais dura. Para trás ficou um paraíso natural, tranquilo, um local onde se apuram os sentidos e as sensações.