Islândia, uma nação nórdica da Europa, sempre esteve presente no nosso imaginário pelos mais diversos motivos. Para nós, visitar o país seria ficar a conhecer uma diversidade de paisagens que inclui vulcões ativos, geysers, fontes termais, praias, glaciares, fiordes, montanhas, enfim… um país como nenhum outro. E assim, foi.
Conhecida como a terra do fogo e do gelo, aqui muda-se de paisagem em menos de nada. Um país de contrastes, recheado de Natureza, vulcanicamente e geologicamente ativo, a décima oitava maior ilha do mundo e a segunda maior da Europa, com dois terços da população concentrada na capital Reykjavík.
Situada no meio do Atlântico, a Islândia ainda possui a particularidade de se encontrar sobre a divisão das placas tectónicas da Eurásia e da América do Norte.
A nossa viagem de sete dias aconteceu no mês de agosto. Escolhemos esta época do ano, sobretudo, a pensar nos dias longos e nas temperaturas mais amenas. Os dias foram longos, no entanto, as temperaturas estiveram muito baixas apesar de ser verão. Vivemos três dias de chuva e sete dias de vento intenso. O Sol brilhou em quatro dos dias.
Chegamos à Islândia depois da meia noite. À nossa espera estavam os funcionários da Go Car Rental Iceland que nos levaram até ao escritório onde levantámos o carro. Nesta noite, pernoitámos num parque de campismo nos arredores do aeroporto de KeflávíK.
A nossa road trip incluiu a Ring Road, o Golden Circle, Landmannaaugar e a península de Snaefellsnes. No total fizemos 2145Km por entre paisagens únicas e memórias para guardar e outras para partilhar.
Nesta viagem à Islândia e, para um maior contacto com a Natureza, escolhemos fazer campismo, uma forma de viajar que também nos permitiu reduzir custos.
Dia 1
O primeiro dia foi dedicado, essencialmente, ao Golden Circle, ou Círculo Dourado, uma das rotas turísticas mais populares da Islândia com cerca de 250Km.
A primeira paragem aconteceu no Parque Nacional Þingvellir, classificado como Património Mundial da UNESCO, onde se situa o Parlamento mais antigo do mundo e onde as placas tectónicas da América do Norte e da Eurásia se encontram.
Devido ao afastamento das placas, são visíveis fissuras ou fendas na paisagem que resultam em rios, lagos e ravinas irregulares. Entre as duas placas existe uma fenda, chamada de Silfra, localizada no Lago Thingvallavatn. Aqui, é possível mergulhar entre os dois continentes em águas cristalinas e glaciares. Em Thingvellir existem também inúmeros trilhos para caminhadas.
Neste local, localiza-se Öxarárfoss com 13 metros de altura. A piscina na base da cascata é pontilhada com pedras grandes e lisas. Durante o inverno, Öxarárfoss torna-se um local fantástico para fotografia, pois a cascata fica completamente congelada.
A geologia subjacente de Öxarárfoss está intimamente ligada à Dorsal Mesoatlântica, uma fronteira tectónica que separa as placas da América do Norte e da Eurásia. Esse fenómeno geológico contribui para as paisagens dramáticas do parque, incluindo o Desfiladeiro de Almannagjá, onde os visitantes podem testemunhar a lacuna visível entre as placas tectónicas.
Continuando no Golden Circle, uns quilómetros à frente, encontra-se Brúarfoss conhecida como a “cascata da ponte”, devido ao arco em pedra que, anteriormente, existiu para que as pessoas pudessem cruzar o rio, uma pequena queda de água alimentada pelo Rio Brúará.
De novo na estrada, seguimos para o famoso Géiser Strokkur que entra em erupção a cada 8 minutos, sensivelmente, lançando jatos de água quente a vários metros de altura.
Esta zona de águas termais altamente ativa, perto do Rio Hvítá, é uma paragem obrigatória no Golden Circle. Por aqui ficámos largos momentos a contemplar as erupções e ao mesmo tempo a explorar o local.
Seguimos para Gullfoss, uma cascata de grandes dimensões no Rio Hvítá, onde é comum formar-se um arco-íris que faz as delícias dos fotógrafos. A paragem seguinte aconteceu em Kerid, um lago de cratera vulcânica localizado na área de Grímsnes com apenas 6500 anos de idade. A caldeira tem aproximadamente 55 m de profundidade, 170 m de largura e 270 m de largura, e é composta por uma rocha vulcânica vermelha única.
O lago é raso, a sua cor vívida deve-se aos minerais do solo. Kerid não foi formado por uma explosão vulcânica, mas sim por um vulcão cone que entrou em erupção e esvaziou a sua reserva de magma. O peso do cone desmoronou na câmara de magma vazia, criando a cratera atual. A água no fundo da cratera está ao mesmo nível do lençol freático e não é causada pela chuva. Para melhor contemplar a caldeira, é possível caminhar pela parte superior da mesma, no entanto, também é possível descer até junto da água.
No final do dia, chegámos a Egissidufoss Localizada em Ytri-Rangá, uma cascata próxima da localidade de Hella, sendo um local de pesca muito conhecido. A cascata é magnífica todo o ano, pois o fluxo é bastante constante, já que Ytri-Rangá é um rio alimentado por nascentes.
Nesta época do ano, os dias são longos e a luz emanada pelo Sol durante a sua deslocação para o horizonte é absolutamente irresistível. Para nós, uma das melhores alturas do dia para fotografar.
Chegámos ao campismo pelas 22h. O Sol encaminhava-se para outras paragens. Ainda havia alguma luz, o que nos permitiu montar a tenda com algum tempo. Estava frio, as temperaturas rondavam os 9 graus, apesar de ser verão na Islândia.
Dia 2
O dia começou cedo. Por volta das 5h da manhã, já o Sol iluminava o país do gelo e dos vulcões. Numa terra repleta de cascatas, Háifoss é uma das mais impressionantes, com 122 metros de altura. Situada no Rio Fossá, um afluente do Rio Thjórsá, o maior rio da Islândia, avistámo-la a partir de um miradouro próximo do parque de estacionamento, depois de termos percorrido uma estrada de terra batida durante 4Km.
Daqui, seguimos viagem para o Parque Nacional Landmannalaugar, uma região remota que requer um veículo 4×4, pois as estradas são em terra batida, com muitas rochas soltas e atravessam vários riachos, abertas apenas no período de verão, ou seja, entre junho e setembro/outubro. Um destino como poucos, com paisagens montanhosas multicoloridas, vulcões, como o Hekla, extensos campos de lava e vários riachos que se entrelaçam ao longo do seu caminho.
Não muito longe de Landmannalaugar, fica o Parque Glaciar Myrdalsjokull, que também só pode ser visitado durante o verão. O vulcão Maelifell é a principal atração desta zona pelo aspeto verdejante do musgo que o cobre, rodeado de areias negras vulcânicas.
Por ser uma região tão remota e tão vasta, demorámos o dia inteiro a percorrê-la. Parámos várias vezes ao longo do trajeto porque a paisagem assim o exige. De facto, esta é uma zona que se reveste de grande beleza, quer pelo dramatismo, quer pelas paisagens surreais de cinzas e areias negras.
Chegámos a Seljalandsfoss e Gljufrabui no final do dia, a altura ideal para conhecer estas duas cascatas, pois o Sol já se encontrava no horizonte e, por este motivo, ofereceu-nos uma luz que jamais esqueceremos.
Seljalandsfoss é uma das cascatas mais populares, com uma queda de água de 60 metros, cujo interesse está na possibilidade de caminhar por trás da mesma.
A Gljufrabui tem a particularidade de estar escondida dentro de um desfiladeiro, embora seja possível vê-la do lado de fora. Quem quiser entrar, pode fazê-lo, convém não esquecer de levar calçado impermeável e capa de chuva.
Foi por aqui, que ficámos algum tempo a deambular entre as cascatas e a absorver a atmosfera de um final de dia, com as mais novas a correrem nos campos pontilhados de flores que pareciam brilhar com a incidência dos raios solares.
Chegámos ao parque de campismo já com pouca luz. Foi montar a tenda, comer e dormir. Estávamos cansados, cheios de frio, mas repletos de memórias maravilhosas.
Dia 3
Os dias na Islândia começam cedo, tanto há para ver. Começamos por fazer um desvio na Ring Road para conhecer Glugafoss no Rio Merkjá, uma cascata que se desenvolve em dois patamares, cujo conjunto tem o nome de Merkjárfoss, com uma altura total de 53 metros.
De novo na Ring Road, a paragem que se seguiu foi em Skógafoss para contemplar uma das maiores cascatas do país com 30 metros de largura que cai a 60 metros de altura sobre um leito de pedras negras que contrastam com o verde esmeralda das encostas. A cascata tanto pode ser admirada a partir da parte inferior como da superior. Subindo uma longa escadaria, mas que vale o esforço, permite ver a cascata de um ângulo diferente e, a partir deste local, caminhar ao longo do rio para chegar a diversas cascatas.
Junto a Skógafoss, encontra-se o Skógar Museum, um espaço que inclui o Museu Folclórico que conta com uma coleção de cerca de 15 mil artefactos de artesanato popular regional, o Museu ao Ar Livre inclui exemplos de vários períodos arquitetónicos islandeses, e o Museu Técnico que explora a história do transporte, da comunicação e das tecnologias nos séculos XIX e XX.
Uns quilómetros à frente, chegámos à praia negra de Sólheimasandur para ver o que resta do avião DC da Marinha dos Estados Unidos que em 1973 ficou sem combustível e caiu na praia. Felizmente, todas as pessoas que seguiam no avião sobreviveram. Existem várias teorias que apontam as causas do acidente, mas ninguém sabe ao certo o que aconteceu.
O cenário deste DC branco abandonado na areia preta é surreal graças à sua paisagem circundante selvagem que contrasta com o metal retorcido da aeronave, dando a sensação de que estávamos num filme de ficção científica.
De novo na estrada, seguimos para Dyrhólaey no topo de uma colina junto ao mar. As vistas impressionantes fazem-se para a longa costa na qual contrasta o azul do mar com o negro da areia da praia. Ao longe, o verde continuava a ser uma constante. Este é um dos locais na Islândia no qual é frequente avistarem-se Puffins, sobretudo durante a primavera e verão, os lindíssimos papagaios-do-mar.
Regressámos à Ring Road e o local que se seguiu foi Reynisfjara com as suas enormes colunas de basalto, uma praia de areia escura sempre repleta de turistas. Uma vez na praia, observámos os grandes rochedos conhecidos como Reynisdrangar muito populares no folclore islandês, com histórias fabulosas que sugerem tratar-se de trolls que se transformaram em pedra.
De volta ao asfalto, seguimos até Vík í Mýrdal, ou Vík, uma pacífica vila à beira-mar localizada ao longo de um trecho dramático do litoral, posicionada entre montanhas com topos de geleiras, penhascos marinhos escarpados e praias de areia preta. No cimo de uma das colinas, o destaque vai para a bonita igreja e para as vistas desafogadas sobre o Oceano Atlântico.
A viagem continuou até Fjadrárgljúfur, um desfiladeiro com cerca de 100 metros de profundidade e 2Km de comprimento, cuja rocha predominante é palagonita do período da Era do Gelo. O dia esteve particularmente soalheiro. Chegámos e, rapidamente, nos instalámos no meio de um prado junto ao rio para contemplar a paisagem e a calma do lugar. Depois, fomos à descoberta, sempre pela parte superior do desfiladeiro, numa caminhada que nos permitiu observá-lo de diferentes ângulos.
Depois de uns largos e bons momentos neste local, continuámos a nossa rota até ao Parque Nacional Vatnajokull onde está localizado o grande glaciar Vatnajokull. Foi em Svínafellsjökull, uma língua de geleira de Vatnajökull de cristas afiadas, que tivemos o primeiro contacto com os glaciares da Islândia.
Estas geleiras de saída fluem para os vales mais baixos e são caracterizadas pelas suas fendas, formações de gelo e a cor azul vibrante. O ambiente em constante mudança da geleira significa que estas formações podem evoluir ou desaparecer ao longo do tempo, tornando cada visita uma experiência única.
Estávamos muito entusiasmados e, apesar de já termos vistos alguns glaciares nas diversas viagens que já fizemos, chegar tão próximo de um, é algo indescritível.
Svínafellsjökull faz parte da Reserva Natural de Skaftafell. Esta reserva era um Parque Nacional por direito próprio, antes da criação do enorme Parque Nacional Vatnajökull, que a absorveu.
Seguindo na Ring Road, poucos quilómetros à frente deparámo-nos com as lindíssimas Lagoa Glaciar de Fjallsárlón e a Lagoa Glaciar de Jokulsárlón envoltas num cenário azul e branco pontuado por diversos icebergs que, entretanto, já se soltaram do glaciar maior.
Em Jokulsárlón é comum avistarem-se focas que tiram proveito da grande quantidade de peixes existentes na lagoa para se alimentarem. Também é possível fazer passeios de barco na lagoa entre abril e outubro. Para os mais aventureiros estão disponíveis excursões às grutas de gelo entre outubro e março.
A cor azulada da lagoa glaciar deve-se à junção da água salgada do mar com a água doce da lagoa. Isto acontece porque a lagoa está conectada com o mar, sendo que grande parte dos icebergs que se soltam vão parar à conhecida Diamond Beach.
Esta praia de areia preta no Sul da Islândia fica mesmo ao lado da lagoa glaciar Jokulsárlón. Como já referimos, os pedaços de gelo que se veem na praia são provenientes da lagoa glaciar que se encontra ligada ao Oceano Atlântico. As ondas vão polindo os icebergs até estes voltaram para a praia. Todas as vezes que se visita a Diamond beach esta será diferente, podendo até haver dias em que não existem pedaços de gelo na areia, tal como aconteceu neste dia.
A Lagoa de Jokulsarlon é um dos sítios mais bonitos da Islândia, por este motivo passámos imenso tempo por aqui a apreciar somente a calma e a pureza da paisagem na melhor hora que é quando o Sol se está a pôr.
O terceiro dia da nossa viagem terminou na bonita localidade de Höfn, uma charmosa cidade piscatória nas proximidades de Hornafjörður. Neste lugar, encantámo-nos com as vistas impressionantes que se fazem para as geleiras de saída fluindo, com as paisagens marítimas panorâmicas e com a montanha Vestrahorn de formato único, que funciona como vigia da cidade.
A noite caminhava a passos largos, por isso, rapidamente fomos fazer umas compras e instalar a nossa tenda no parque de campismo. Ameaçava chover em breve. E choveu, choveu muito durante a noite. Sorte a nossa, que a tenda é bastante impermeável e não deixa entrar água. Dormimos quentes, depois de termos alugado uns sacos cama extra, embalados pelo som da chuva e do vento.
Dia 4
O dia começou muito cinzento e com muita chuva à mistura. Já não falamos do vento porque ele foi uma constante durante toda a semana de viagem. A Islândia é assim! As condições meteorológicas mudam rapidamente, sendo necessário, por vezes, adaptar o roteiro. Não foi o nosso caso porque mesmo chovendo continuámos com os nossos planos, apesar de termos tido algumas dificuldades no acesso às atrações mais distantes da estrada por causa da chuva intensa.
A primeira paragem aconteceu em Vestrahorn, na península de Stokksnes, uma montanha cujo pico atinge os 454 metros, encontrando-se rodeada de lagos e uma praia de areia negra pontuada por algumas ervas verdes aqui e ali.
Visitar este lugar implica pagar, pois trata-se de um local privado. O bilhete permite, por tempo ilimitado, explorar as vistas e a lagoa de maré, tirar fotos e caminhar nos três trilhos da área, e conhecer uma pequena vila Viking.
Vestrahorn foi formada entre 8 e 11 milhões de anos atrás pelo resfriamento lento do magma e é composta por rocha gabro. Esta substância é rica em ferro e magnésio, dando à rocha a sua cor preta esverdeada.
A partir desta região, a paisagem muda um pouco. Começam a surgir os Eastfjords (Fiordes Orientais), uma das zonas menos povoadas do país, permitindo explorar paisagens longe das multidões. Neste cenário, encontra-se Djúpivogurseria, uma vila que já foi um centro comercial regional, com as suas casas de madeira do século XVIII e vista para a enseada natural de onde partem pequenos barcos de pesca.
Neste cenário, a estrada desenvolve-se por entre os vários fiordes, sempre junto ao mar. As pequenas localidades, muitas delas ligadas à pesca, vão aparecendo aqui e acolá.
Nesta bela estrada, existem diversas atrações naturais. Não havendo tempo para conhecer todas, mas como Skútafoss se localiza próximo da estrada, decidimos fazer um pequeno desvio para visitar. Trata-se de uma cascata com 6 metros de altura no Rio Þorgeirsstaðaá no vale Þorgeirsstaðadalur. Foi nas proximidades deste lugar que, finalmente, conseguimos avistar luppins, ou tremoços azuis, planta fabácea cuja semente são os tremoços, pertencentes ao género Lupinus, usados na fixação de azoto nos solos.
Seyðisfjörður foi a localidade que se seguiu no estreito de um fiorde, uma vila famosa por causa da sua igreja azul e da rua pintada às cores. É um lugar encantador ao qual se acede através de uma passagem de montanha com uma vista maravilhosa. Também é comum as pessoas chegarem à cidade de navio, o único barco de passageiros que conecta a Islândia à Europa.
Conhecida pelos festivais de arte e residências, Seyðisfjörður é uma cidade que se reinventou. Durante o trajeto para este belo lugar, fizemos uma breve paragem para conhecer Gufufoss, a maior cascata do fiorde Seydisfjordur que cai a 27 metros de altura, e se encontra voltada para o leste, sendo a sua melhor vista durante o nascer do sol. Gufufoss significa cascata de vapor por causa das névoas pesadas que sobem da bacia do penhasco onde está localizada.
No final do dia, chegámos a Egilsstaðir, a maior cidade do leste da Islândia, com uma população de 2464 pessoas em 2018. Está localizada nas margens do Rio Lagarfljót, no amplo vale do fértil distrito de Fljótsdalshérað, sendo o principal centro de serviços, transporte, incluindo um aeroporto usado para voos domésticos.
Egilsstaðir fornece todos os serviços básicos para os viajantes, desde supermercados, lojas de souvenirs, hotéis, um centro de informações, restaurantes e operadores turísticos. Na cidade, existe um popular Museu do Património, com várias casas de turfa remodeladas, réplicas das casas em que os islandeses viveram durante séculos. Para além destes serviços, há também uma faculdade e um centro de saúde.
Mais uma vez, chegámos no final do dia. Montámos a tenda e fomos preparar a nossa refeição na grande cozinha comunitária, um espaço de convívio muito agradável.
Lá fora, a chuva continuava a cair com alguma expressão. Nada que nos incomodasse, tal era o entusiasmo por estarmos num país tão bonito.
Dia 5
Um novo dia, um novo amanhecer. A chuva continuava a cair. Mas a estrada estava à nossa espera. Tínhamos chegado ao Norte do país e, após alguns minutos na Ring Road, fizemos uma breve paragem para conhecer Rjukandafoss, uma das mais altas cascatas na terra do fogo e do gelo, com 93 metros de altura.
A estrutura rochosa do penhasco de Rjukandi divide a cascata em várias quedas, tendo dois fluxos principais. A maior cai a 60 metros de altura, enquanto a menor a 33 metros. Crê-se que a cascata tenha uma altura total de 139 metros, o que inclui todas as outras quedas d’água do vale. O Rio Ysta-Rjukandi, dois rios irmãos vindos da montanha Sandfell próxima, juntam-se num, alimentando as águas frias da cascata.
Depois da pequena pausa, fizemos um desvio na Ring Road para conhecer Studlagil, um desfiladeiro localizado no vale de Jokuldalur, um lugar descoberto recentemente, pois encontrava-se escondido debaixo da água até à construção da central hidroelétrica de Kárahnjúkavirkjun. Nós acedemos ao desfiladeiro, a partir de uma longa escadaria junto ao parque de estacionamento.
Nesta zona, situa-se Studlafoss, uma cascata espetacular cercada por colunas de rocha basáltica, no vale glaciar de Jokuldalur, um local que marca o início de um trilho remoto para caminhadas no leste da Islândia. A regularidade e o tamanho da coluna de basalto, a vegetação fascinante e a pilha de pedras no primeiro plano são os fatores que contribuem para a singularidade desta magnífica cascata.
De novo na Ring Road, fizemos um novo desvio para conhecer Dettifoss, muitas vezes apontada como a cascata mais poderosa da Europa localizada num desfiladeiro, numa região onde também se situa Selfoss, a cerca de 2,5 km da estrada. Quando chegámos ao local não conseguimos ver as cascatas, tanta era a chuva e nevoeiro que se fazia sentir. Com alguma tristeza tivemos de excluir este lugar e regressar novamente à estrada.
De volta à Ring Road, fomos conhecer Krafla, uma caldeira do vulcão, onde já ocorreram 29 erupções. Esta é uma das regiões com mais vulcões do mundo, muitos deles ativos. Situada perto do Lago Mývatn, Krafla-Viti é uma enorme cratera com água azul turquesa e cerca de 10 km de diâmetro, formada durante uma erupção explosiva.
Hverir faz parte deste lugar surreal de cor vermelho-alaranjado, uma área geotérmica onde são visíveis fumarolas e coloridas fontes de lama sulfurosa. Não se deve ficar muito tempo por aqui por causa do cheiro a enxofre.
Mývatn é conhecida como a capital das auroras boreais, um lugar de vulcanismo ativo. Junto à Ring Road existe um lago chamado Blue Lake por causa da cor azul estonteante da água e cheiro intenso a enxofre.
Mývatn Nature Baths, muitas vezes apelidada de “mini Blue Lagoon do Norte”, é o lugar ideal para, com base numa tradição secular, oferecer aos banhistas uma experiência completamente natural que começa com um mergulho relaxante no meio de nuvens de vapor que sobem de uma fissura profunda na superfície da Terra e termina com um mergulho numa piscina de água geotérmica.
Depois de um reconfortante banho quente nas águas azuis de Mývatn Nature Baths, seguimos viagem em direção a Akureyri, com uma breve paragem em Godafoss, cujo nome significa “cascata dos deuses” com uma história ligada à conversão ao cristianismo na Islândia. Nós acedemos a cascata do lado Oeste, onde existe um parque de estacionamento. Do lado Este, há a vantagem de se poder subir ao topo da cascata ou descer até à base.
Chegámos ao cair da noite a Akureyri, a “capital do Norte”, como os locais lhe chamam, uma cidade que possui a maior biblioteca do país, as casas de Laufas Turf, um jardim botânico, e até um aeroporto. Existe um túnel, aberto em 2018, que conecta Akureyri a Mývatn. É a única estrada na Islândia paga. Quem não quiser pagar, poderá seguir pela estrada antiga. Foi o que fizemos, pois poupa-se dinheiro, o tempo da viagem é quase o mesmo e ainda podemos apreciar a beleza natural por onde a estrada passa.
Neste dia, decidimos pernoitar num hotel, pois continuava a chover com alguma intensidade. Estávamos a precisar de um pouco de conforto e algumas comodidades extra. Para além destas necessidades, também quisemos experimentar a hotelaria da Islândia.
Dia 6
A manhã acordou cinzenta, a chuva continuava a cair, ainda que, com menor intensidade. Depois de um agradável pequeno almoço, foi hora de nos fazermos à estrada.
A partir de Akureyri a paisagem muda um pouco. Tínhamos chegado a uma região que alterna entre montanhas com cumes cobertos de neve e vales profundos abertos. No seio deste cenário impressionante, mesmo junto à estrada, encontrámos uma cascata que dá pelo nome de Gil. Já pesquisámos sobre este lugar, mas não encontrámos informação.
Depois de uns longos quilómetros, fizemos uma nova paragem junto às crateras de Grabrokargigar que preservam os três cones de escória pertencentes à zona vulcânica de Snaefellsnes. Para aceder às crateras é necessário fazer um pequeno trilho.
De novo na estrada, fizemos um desvio para conhecer Hraunfossar, uma das cascatas mais particulares da Islândia, não por causa da sua altura ou fluxo, mas devido à forma como surge na superfície. Filtrada através dos campos de lava da região, a água flui diretamente das profundezas da terra e cai por uma encosta, criando um espetáculo visual de grande beleza.
Mesmo ao lado de Hraunfossar fica Barnafoss, “a cascata das crianças”. Segundo a lenda, este nome deve-se, ao facto de duas crianças terem morrido nas suas furiosas águas na véspera de Natal há vários séculos. Segundo a mesma história, a mãe dos filhos falecidos decidiu destruir um dos arcos naturais que ligavam as rochas de Barnafoss para que a tragédia não acontecesse novamente.
Depois de um pequeno passeio pela envolvente, regressámos à Ring Road por mais alguns quilómetros até Borgarnes. A partir desta localidade fizemos um desvio para conhecer a península de Snaefellsnes designada de “Islândia em miniatura”.
A região foi declarada Parque Nacional em 2001. Alguns dos locais mais enigmáticos são o glaciar Snaefellsjokull, a montanha Kirkjufell, os pináculos rochosos vulcânicos de Lóndrangar e a pequena, mas atraente povoação de Búdir. Nestas paisagens é muito frequente avistarem-se cavalos que pastam tranquilos em manada, e muitas ovelhas que se passeiam pelos pastos verdejantes ou dormem nas encostas que terminam junto à estrada.
Entrar nesta península foi entrar na Islândia que há muito preenchia o nosso imaginário. As paisagens que imaginávamos quando alguém nos falava sobre a Islândia encontram-se nesta região.
Uma dessas paisagens dá pelo nome de Kirkjufell, a montanha mais fotografada da Islândia. Com 463 metros de altura, o nome Kirkjufell significa “montanha da igreja” devido à sua forma. Formada há milhões de anos pela erosão glaciar, as camadas de rocha são visíveis de baixo para cima. Este é o resultado de inúmeras erupções vulcânicas. O Kirkjufell estava localizado entre dois glaciares e estes influenciaram a sua forma.
Junto à montanha existe uma cascata que, normalmente, fica em primeiro plano nas fotos e Kirkjufel em pano de fundo criando um cenário de rara beleza. Esta zona é tão especial que até o escritor Júlio Verne a mencionou no seu livro Viagem ao Centro da Terra.
Após uma breve paragem, seguimos viagem até Búdir, uma pequena localidade junto ao mar cujo ponto de interesse, para além da majestosa paisagem, é a pequena igreja preta localizada num prado verde, num local inóspito. Búðakirkja, a igreja original com data de 1701, é tudo o que resta da antiga comunidade piscatória de Búðir que, no passado, foi um dos maiores portos e entrepostos comerciais da Islândia.
De regresso à Ring Road, seguimos em direção a Reykjavík passando pelo túnel de Hvalfjörður, um dos maiores túneis submarinos do mundo (quase 6 km) escavado a uma profundidade de 165 metros. Um feito da engenharia que encurta o tempo de viagem no fiorde para cerca de 10 minutos, em vez de uma hora pela estrada normal.
O sexto dia da nossa viagem aconteceu no dia 24 de agosto, o dia em que mais uma vez um dos vulcões próximos de Grindavík entrou em erupção. Para nós foi o êxtase total. Estávamos na Islândia precisamente na altura em que aconteceu um dos fenómenos mais bonitos e perigosos do nosso planeta. Com o coração a palpitar, fomos ver de perto.
Ao chegarmos ao local de segurança montado pela polícia local, a sensação de estar tão perto de um vulcão em erupção tomou conta de nós. Que emoção ter tido a oportunidade de ver a lava a ser expelida pelas fendas no solo.
Perante tanto alvoroço, a noite foi caindo e mal demos por ela. No entanto, já era tarde e era necessário procurar parque de campismo para a pernoita. Acabámos por ficar num parque com vista privilegiada para o vulcão. E foi assim que adormecemos, com vista para o vulcão que continuava agressivo.
Dia 7
O último dia da nossa viagem foi dedicado a Reykjavík, a capital da Islândia e a capital mais ao norte de qualquer estado soberano do mundo. É o centro financeiro, cultural e político da Islândia, e tem a reputação de ser uma das cidades mais limpas e seguras do mundo.
O litoral de Reykjavík, no Sudoeste do país, é definido por penínsulas, enseadas, estreitos e ilhas, aves marinhas e baleias. O anel de montanhas visto da costa é particularmente bonito. O maior rio que atravessa a cidade é o Elliðaá, no vale de Elliðaárdalur, que também é um dos melhores rios da Islândia para a pesca de salmão.
O cenário artístico local é forte na Islândia, com eventos e festivais anuais, com muitos dos artistas que o compõem a atingiram o cenário internacional.
Existem muitas atrações populares em Reykjavík, incluindo a conhecida igreja Hallgrimskirkja ou Catedral da Islândia, o Harpa Concert Hall and Conference Centre, a escultura Sun Voyager, o Museu Nacional da Islândia, o Museu da Cidade de Reykjavík e o Museu Perlan.
Decididos, apenas, a deambular pelas ruas e praças da cidade em busca da arquitetura nórdica com as suas construções coloridas, começámos por visitar a catedral, e depois percorremos a famosa rua pintada de diversas cores, a Skólavordustigur até à zona do porto onde se localizam as construções de arquitetura mais moderna. Neste périplo, destacámos os muitos restaurantes, bares e lojas que por aqui existem, bem como a atmosfera fria, mas ao mesmo tempo vibrante que tão bem caracteriza a cidade.
E assim terminou a nossa viagem de sete dias pelas magníficas paisagens da Islândia, um destino que nos encantou pela sua Natureza exuberante e peculiar, que oferece uma mistura de vulcões, geleiras, geiseres e campos de lava, para além de uma cultura rica e uma população acolhedora.
Visitar este país permitiu-nos mergulhar num universo de contrastes que dificilmente se encontra noutro lugar do mundo, proporcionando-nos memórias inesquecíveis e uma vontade gigante de voltar.