Existem regiões que parecem ter saído de telas artísticas. O Vale do Douro é uma dessas regiões de grande beleza, com uma paisagem marcante, na qual o rio e as vinhas enaltecem a zona. No seio destes terrenos moldados pela força da Natureza, encontra-se uma linha férrea, conhecida pela Linha do Douro, que percorre e permite conhecer o vale de uma forma diferente, talvez uma das melhores formas de conhecer a região.
Esta linha de caminho de ferro liga a cidade do Porto a Barca d’Alva e acompanha o Rio Douro numa extensão de cerca de 200 Km. Ao longo do percurso podem ser admiradas as bonitas paisagens do Douro, classificado pela UNESCO como Património da Humanidade.
A construção da linha do Douro decorreu entre 1873 e 1887. A Linha do Douro foi uma obra de grande importância para a região pois permitiu criar uma alternativa ao Rio Douro, a única via de comunicação, e o transporte regular de pessoas e produtos agrícolas, especialmente o vinho, ligando o Alto Douro Transmontano ao litoral.
A ligação internacional foi, contudo, fechada em 1985 e em 1988, também foi encerrada a ligação entre o Pocinho e Barca d’Alva. Assim, hoje em dia a Linha do Douro está aberta apenas até ao Pocinho no concelho de Vila Nova de Foz Côa.
O comboio circula todos os dias, durante todo o ano. Os bilhetes para a viagem podem ser adquiridos nas bilheterias da CP ou através do site oficial da empresa. A título de exemplo, o preço do bilhete de ida e volta (Porto São Bento – Pocinho), para um adulto é de 24,40€.
A viagem poderá ser iniciada numa das 23 estações, onde o comboio efetua paragens. Da cidade do Porto até Marco de Canaveses, a paisagem é maioritariamente urbana, com poucos motivos de interesse. É a partir da Estação de Mosteirô, que a viagem se torna, verdadeiramente interessante, local onde o Rio Douro começa a acompanhar a viagem rumo até à estação final. Foi aqui, precisamente, que iniciámos o nosso trajeto.
Até lá, não faltam motivos de interesse e atividades para fazer nas diversas terras por onde circula a Linha do Douro.
A Linha do Douro cruza, por exemplo, o território da Rota do Românico, passando pelos municípios de Paredes, Penafiel, Lousada, Amarante, Marco de Canaveses e Baião. Saindo na Estação de Cête, pode-se visitar o Mosteiro de Paço de Sousa que se situa a 1,4 km da estação, ou então, percorrer os 3 km que separam a Estação de Aregos da Casa de Tormes (Fundação Eça de Queiroz) para conhecer um pouco mais sobre Jacinto do romance queirosiano “A cidade e as serras”.
Se a viagem acontecer nos meses de verão, a poucos metros da Estação de Rede, pouco antes de chegar à Régua, existe uma Praia Fluvial não vigiada que inclui um espaço agradável com relva, árvores, um bar, meses de piquenique e churrasqueira.
A cidade de Peso da Régua é uma paragem obrigatória na região do Douro Vinhateiro, onde se sugere caminhar pela zona ribeirinha para se poder desfrutar da Ecopista Ribeirinha e de um passeio junto às margens do Douro. O Museu do Douro também merece uma visita para se conhecer toda a história do património cultural e natural da região do Douro, bem como a Ponte Pedonal, a Igreja Matriz, a Biblioteca, a Capela das 7 Esquinas e a Casa do Asilo José Vasquez Osório.
A Estação do Pinhão é outra das paragens obrigatórias na Linha do Douro. Vale a pena explorar os detalhes do edifício, nomeadamente, os painéis de azulejo que decoram as suas paredes. Já no exterior, seguere-se a deslocação até à Rua da Marginal para percorrer a zona ribeirinha, entre a Ponte Nova e a Ponte Velha.
Na vila de Pinhão existem várias e conceituadas quintas nas quais se produz o famoso Vinho do Porto, como a Quinta do Pôpa, onde é possível visitar a adega, as caves, o museu, as vinhas e fazer uma degustação de vinhos.
A poucos minutos do Pinhão, encontra-se a Estação do Tua, a paragem seguinte do comboio. Sem sair da estação, pode-se visitar o Centro Interpretativo do Vale do Tua, localizado no cais reabilitado. Aqui, também se situa uma das portas de entrada do Parque Natural Regional do Vale do Tua, e onde se pode obter todas as informações sobre o que visitar na região.
Ainda no Tua e para quem gosta de caminhadas, existe o Trilho de Foz-Tua com cerca de 3,5 Km, que começa junto à estação ferroviária e segue em direção à Barragem do Tua, percorrendo parte da antiga linha férrea.
Antes de se chegar ao destino final, no Pocinho, a Ponte Ferroviária de Ferradosa constitui outro motivo de interesse na viagem. Em poucos segundos, passa-se da margem direita do Rio Douro para a esquerda e assim continua até ao Pocinho.
Com a chegada ao Pocinho termina uma das mais belas viagens de comboio do mundo. Mas, como normalmente o percurso de regresso se faz pela mesma via, então, há ainda a oportunidade de rever mais uma vez tão belas paisagens.
Próximo da estação, pode-se ver a antiga Ponte Rodo Ferroviária do Pocinho, que ligava Vila Nova de Foz Côa a Torre de Moncorvo, e a Barragem do Pocinho.
A cerca de 7 Km da estação, encontra-se o Parque Arqueológico do Vale do Côa e o Museu da Fundação do Côa, os grandes pontos de interesse da região.
É desta forma que a Linha do Douro se traduz num dos mais belos passeios em Portugal, permitindo desfrutar de uma paisagem classificada pela UNESCO como Património da Humanidade, com as suas encostas repletas de vinhedos e socalcos que se refletem no rio, passando por túneis e pontes, não esquecendo das bonitas vilas e cidades.
