Perdida na imensidão do Alentejo, permanece aquela, que outrora, foi palco de extração de sulfuretos maciços vulcanogénicos, vulgarmente conhecidos por pirites. Estamos a falar da abandonada Mina de São Domingos, um local bucólico, decadente, mas muito interessante sob o ponto de vista do minério em Portugal, constituindo um polo de interesse turístico cada vez procurado na região e que está inserida na Rota do Minério.
Os jazigos de sulfuretos da Mina de São Domingos localizam-se no concelho de Mértola, fazendo parte da faixa ibérica de pirites, com uma extensão de 250 km, que vai da região de Alcácer do Sal, onde está a mina de Lousal, até Sevilha. O local encontra-se associado a uma formação geológica constituída por rochas vulcânicas e sedimentares formada na era Paleozoica, há cerca de 352 a 330 milhões de anos, estando relacionada com a circulação de fluídos hidrotermais entre rochas vulcânicas e sedimentares, as quais sofreram grandiosos processos físico-químicos de lixiviação e troca iónica, segundo referem os painéis informativos colocados ao longo do complexo.
A mina de São Domingos iniciou a sua laboração em 1854, tendo saído dos seus jazigos, neste período, mais de 20 milhões de toneladas de minério, principalmente cobre, zinco, chumbo e enxofre. Nela, chegaram a trabalhar continuamente mais de mil pessoas para a empresa britânica que durante mais de um século explorou as minas e que criou um conjunto de estruturas para a produção de apoio social que foi inovador nesta região.
Em 1966, terminado a exploração e, após a venda da maquinaria e de tudo o que foi possível desmantelar, manteve tudo o resto a céu aberto e ao abandono. Atualmente, ainda é possível observar edifícios em ruínas, restos de linha férrea, estruturas enferrujadas, escavações abandonadas, um lago, os antigos balneários, os ciprestes e muitas histórias recordadas pelos mais antigos que ainda viveram esses tempos enquanto crianças.
Ao entrarmos neste cenário quase irrealista, apercebemo-nos da antiga estação ferroviária de onde escoava o minério até ao porto mineiro de Pomarão, ao longo de 17 km de onde depois seguia, por via marítima, até Inglaterra.
Avançando no terreno, passámos pelo cais do minério, um local onde se faziam as descargas e separação do minério extraídos do subsolo. Mais à frente deparámo-nos com uma gigantesca e profunda lagoa em tons de azul metalizado, de águas ácidas, que foram se acumulando ao longo dos anos, envolta nos socalcos a céu aberto, zona de extração propriamente dita da mina, onde o cheiro a enxofre é bastante evidente.
Já vos tínhamos contado que sentimos um fascínio por locais abandonados? É verdade, gostamos imenso de explorar estes sítios e imaginar o que ali se passou em tempos. Ao atravessarmos este complexo fomos inundados por sentimentos de estranheza e perplexidade, é toda uma imensidão silenciosa e castanha, de tão poeirenta que se tornou. Contudo, por ali ficámos por mais algumas horas, as quais também foram aproveitadas para conhecer a pequena aldeia que complementa a localidade, visitando a Casa do Mineiro e o Cineteatro, um núcleo de exposições.
A visita à Mina de São Domingos ficou completa com uma paragem na Praia Fluvial da Tapada Grande, um local paradisíaco, perfeitamente encaixado, no belíssimo cenário alentejano e que resultou de uma barragem mandada construir pelos proprietários ingleses da mina para abastecer a aldeia de água.
É um dos locais mais concorridos da região no verão. Possui um bar/restaurante, uma extensa faixa de areia, sombras e todas as comodidades para grandes momentos de lazer.