A nossa passagem pelo estado insular de São Tomé e Príncipe foi em trabalho, para participar num congresso sobre Educação Ambiental na ilha do Príncipe, um local onde se sente uma dupla insularidade, onde as limitações e o isolamento são ainda mais evidentes.
Foi uma semana de muitas aprendizagens, reflexões e muitos passeios, uma semana intensa que ficará para sempre na nossa memória. Como fomos em trabalho não levamos “as pequenas”, mas assim que lá chegamos, rapidamente nos apercebemos que deveriam ter ido, pois teria sido muito importante também para elas, vivenciar o modo de vida simples, mas feliz das pessoas, sobretudo, das crianças.
Outrora colónia portuguesa, é hoje um dos lugares mais especiais do mundo, quase intocável, autêntico e único. São Tomé e Príncipe é um estado insular localizado no Golfo da Guiné, composto por duas ilhas, a ilha de São Tomé e a ilha do Príncipe, e várias ilhotas com cerca de 192 mil habitantes.
O país chegou a ser o maior exportador do mundo de café e cacau, hoje em dia apenas é visível o que resta das roças.
Apesar de já não ser dependente de Portugal, São Tomé e Príncipe continua a ter fortes ligações lusas, sendo a principal a língua, pelo que integra a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
São Tomé e Príncipe tem um clima do tipo equatorial, quente e húmido, com temperaturas médias anuais que vão desde 22 e 30 graus, e alguma chuva entre outubro e maio, sendo notória a multiplicidade de micro climas, consoante a altitude.
A par das boas condições ambientais, um outro fator importante para umas férias tranquilas é a segurança que o país oferece e a enorme hospitalidade e amabilidade das suas gentes.
É um arquipélago de origem vulcânica rico em várias espécies de fauna e flora.
Para visitar este país é aconselhável ir à consulta do viajante para serem receitadas as vacinas e todos os cuidados de saúde a ter antes, durante e após a viagem.
A moeda local é a Dobra, sendo que 1€ equivale a 24 500 Dobras, no entanto, pode fazer-se pagamentos em Euros.
Vamos começar por escrever sobre a ilha do Príncipe, pois foi onde passámos mais tempo, foram 6 dias intensos nesta linda ilha, e apenas 1 dia em São Tomé.
Príncipe
Príncipe, cuja capital é Santo António, é a ilha menor com uma área de 142Km2 e uma população de cerca 5400 habitantes.
Para chegarmos a este pequeno paraíso, viajámos a partir de São Tomé, numa pequena avioneta de 18 lugares. À saída no aeroporto, a sensação é de algum receio, adrenalina e expectativa, quer pelo meio de transporte quer pelo que nos esperava. O Príncipe não é uma ilha qualquer, é um sítio muito especial que marca e que fica para sempre, é difícil de explicar, só indo lá…
Após 30 minutos de viagem, começa-se a avistar o verde, muito verde, envolto num mar azul. Uma visão intensa da natureza inabalável. É um território montanhoso, coberto de florestas tropicais. As suas praias douradas e desertas com coqueiros, como a praia Banana, a praia Boi, a praia de Évora, possuem um areal fino e são banhadas por uma água límpida e uma temperatura amena que convida a mergulhos.
Rica em fauna e flora, nas regiões de maior altitude pode-se observar muitas espécies de flores que crescem de forma espontânea como as orquídeas ou a rosa de porcelana.
Ao aterrar, o primeiro impacto e os seguintes são de admiração, de curiosidade. O cheiro é inconfundível, não há operadores turísticos à saída do aeroporto, não há autocarros para a cidade, as infraestruturas são muito básicas e simples, mas o calor humano, esse é bem visível. Há sempre imensas pessoas junto à vedação do aeroporto. Pelos vistos, sempre que aterra um avião os locais juntam-se naquele espaço para ver quem chega, um quebrar de rotina numa terra onde pouca coisa acontece.
Por aqueles dias a ilha do Príncipe preparou-se para receber um evento que decerto também marcou a sua pacata vida, um evento com alguma envergadura, dados os escassos recursos que possuem, mas que, no fundo, foi um sucesso, sobretudo, pela forma tão genuína e simples com que abraçaram este desafio.
Saímos do aeroporto onde fomos recebidos com pompa e circunstância, em direção a Santo António, designada como a cidade mais pequena do mundo. Pelo caminho, de terra batida, a curiosidade assolava o nosso coração. A vegetação é muito densa, cruzámo-nos com algumas crianças a brincar na berma da estrada à porta das suas casas, construídas essencialmente em madeira, muito simples, sem grandes condições.
E eis que se começa a avistar a cidade. O impacto continua a ser o de admiração, como é que é possível uma cidade não ter ruas de asfalto e os edifícios serem tão velhos e degradados? Pois bem, é verdade, por aqui tudo ainda é muito precário, o progresso ainda não chegou, parece que esta terra parou no tempo. Tudo é muito simples e básico.
Há apenas alguns serviços como, hospital, escolas, igrejas, câmara, correios, telecomunicações, um supermercado com o essencial, algumas residenciais, alguns restaurantes, mercado e pouco mais.
Mas se por um lado os recursos materiais e físicos são limitados e escassos, os naturais abundam por toda a ilha.
Em 2012, o Príncipe recebeu o Estatuto de Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO. Esta distinção teve um impacto muito grande de sensibilização da população. Todos os dias é feito um trabalho junto das comunidades que se prende com a natureza, conservação e uso controlado dos recursos em prol do desenvolvimento sustentável. A Reserva pertence ao governo e tem uma equipa local que garante o cumprimento dos objetivos. Estrela Matilde é uma portuguesa, a morar no Príncipe há 4 anos, que se juntou a esta equipa e que contribui para o desenvolvimento do trabalho na Reserva, para além das funções que desempenha na Fundação Príncipe Trust, organização sem fins lucrativos que atua na conservação da Natureza e pertence ao projeto HBD, um projeto de um milionário sul africano que se apaixonou pela ilha, Mark Shutleworth, que investiu cerca de 150 milhões de euros, que para além de empregar professores, agricultores, funcionários de hotelaria, aumentou o aeroporto, é proprietário do Resort Bom Bom, e pretende recuperar as roças transformando-as em espaços hoteleiros.
Ao chegarmos à cidade instalámo-nos na residencial D&D Club, um espaço muito modesto, mas que possui as comodidades mínimas. Os quartos têm casa de banho com água canalizada, uma pequena sala de estar, um café/ bar, uma sala de pequenos almoços, wi-fi gratuito, um dos poucos espaços hoteleiros com este serviço. O resto do dia foi para descansar e conhecer a cidade.
No dia seguinte, que começou cedo pois amanhece muito cedo, fomos fazer um passeio de barco na zona Norte da ilha, pelas mais belas praias, com partida do Bom Bom Resort passando pelas praias Bom Bom, Campanhã e Banana com paragens para mergulhos e águas de coco.
A tarde foi passada no lindíssimo Bom Bom Resort, entre mergulhos na magnífica praia e na piscina do hotel. Este é um local idílico da ilha, um local exclusivo, muito tranquilo para quem procura isolamento, férias bem sossegadas e verdadeiras sensações de relaxamento e contemplação da Natureza.
Os quatro dias que se seguiram foram passados entre a escola onde decorreu o congresso, na parte da manhã, e na parte da tarde foi tempo de visitar três comunidades: a roça Sundy, a comunidade do Terreiro Velho e a comunidade da Praia Abade.
Para Ver/ Fazer
– Relaxar com uns belos passeios percorrendo a ilha, embrenhando-se entre a vegetação superabundante e cursos de água.
– Passeios de barco pelas mais belas praias do Príncipe.
– Observar as tartarugas marinhas, assistindo à sua desova e à libertação dos filhotes na praia Grande.
– Subir ao cume do Pico do Príncipe ou Pico do Mencorne, cada um com quase 1000 metros de altitude. O Papagaio é o maior rio do Príncipe e nasce no declive das montanhas que ficam situadas entre estes dois picos desaguando no Atlântico junto à baía de Santo António.
– Parque Natural de Obo, um bosque selvagem, protegido e quase impenetrável, relativamente isolado no Sul da ilha.
– Desportos de Natureza e montanhismo, tais como: caminhadas, trekking, canoying, voo livre, observação de fauna e flora, entre outros.
– Roça Sundy que é a maior da ilha e a mais importante dos anos coloniais, responsável pela maior produção de cacau e café. O caminho para lá chegar é duro, mas vale a pena, faz-se por uma estrada de terra batida de cor laranja. A roça é composta pelas casas dos trabalhadores, o hospital degradado, a linha férrea, a pequena fortificação, a capela e a casa dos patrões, atualmente transformada num hotel género colonial. Foi neste local que em 1919 foi comprovada a Teoria da Relatividade de Albert Einstein.
– Comunidade Terreiro Velho, foi a primeira em todo o arquipélago que implementou a cultura de cacau. José Ferreira Gomes trouxe a planta do Brasil para a Ilha do Príncipe em 1822, inicialmente como uma planta ornamental. A cultura prosperou no chão fértil do arquipélago e tornou as ilhas o maior produtor de cacau a nível mundial. Mais tarde foi disseminada à partir de São Tomé e Príncipe para a Nigéria e Gana.
– Comunidade da Praia Abade, onde vive uma das populações mais simpáticas da ilha, com um areal onde as crianças se divertem a brincar com uma simples bola de futebol ou simplesmente a mergulharem nas amenas águas.
– Roça Paciência, situada a norte da ilha do Príncipe, perto das roças Belo Monte e Praia Inhame, a roça Paciência foi propriedade do Dr. Cupertino d’Andrade e mais tarde dependência da roça Sundy.
Apesar da sua pequena dimensão, conserva um certo ambiente familiar, muito idêntico às pequenas quintas portuguesas.
À semelhança de várias roças da ilha do Príncipe, tem uma estrutura de «roça-terreiro», com geometria quadrada e encerrada pelos seus edifícios. Embora definam o terreiro, os edifícios são volumes isolados, ligeiramente afastados entre si. As duas sanzalas ocupam uma das faces do recinto, com os secadores e o antigo galinheiro a formarem a ala contrária. As oficinas definem outro dos lados, com a casa principal, a casa dos empregados e os escritórios a fechar o complexo. Fora do terreiro encontram‑se os edifícios de apoio à atividade agrícola, como o estábulo, a pocilga e os galinheiros. A roça Paciência está atualmente em recuperação, promovendo a atividade agrícola e funcionando como escola de pedreiros.
– Roça de S. Joaquim, uma das mais afastadas da cidade de Santo António.
Praias
– Bom Bom
– Campanhã
– Banana
– Macaco
– Boi
– Margarida
Para Ficar
A oferta hoteleira na ilha do Príncipe é muito escassa e modesta na cidade de Santo António.
– D&D Club
– Residencial Palhota
– Residencial Mira Rio
– Roça Belo Horizonte
– Makaira Lodge é um alojamento de turismo selvagem de tendas luxuosas situado em Príncipe. Está localizado na praia de Campanhã e tem piscina exterior disponível durante todo o ano, restaurante, bar e wi-fi. Os hóspedes poderão apreciar várias actividades na zona circundante, como snorkelling e pesca. Fornece um serviço de transporte gratuito de/para o aeroporto.
– Bom Bom Island Resort, um lugar de sonho com 19 bungalows de madeira num jardim tropical entre duas praias paradisíacas e desertas com uma bela piscina pelo meio. Os hóspedes poderão relaxar nas espreguiçadeiras junto à piscina exterior ou junto ao mar. Todos os bungalows do Bom Bom Príncipe beneficiam de ar condicionado, uma entrada privativa, uma televisão e uma casa de banho privativa com um chuveiro. Alguns dos bungalows têm uma varanda ou um terraço, bem como acesso Wi-Fi gratuito.
Todas as manhãs é servido um pequeno-almoço típico no conforto das acomodações. O restaurante do resort propõe refeições à carta com pratos exóticos e internacionais.
O Bom Bom Príncipe fica a 10 minutos de carro do Aeroporto Príncipe e o transporte para o aeroporto é gratuito.
Para tomar as refeições, tem de se atravessar uma ponte de madeira para chegar ao ilhéu Bom Bom onde funciona o restaurante. Possui SPA com centro de massagens e várias atividades.
Para Comer
À exceção dos restaurantes dos hotéis, os restaurantes da cidade são muito modestos, simples, mas com comida típica muito boa e atendimento muito afável.
– Associação Cultural Rosa Pão
– Residencial A Palhota
– Bar Passô
– Restaurante Santo António
– Restaurante Pedra Pedra
A ilha é rica em iguarias gastronómicas. Seguem-se algumas sugestões:
– Molho Fogo com banana, fruta pão assada/ frita e inhame
– Frango à maneira da terra
– Moqueca com fubá à la José
– Frango com arroz
– Concon
– Guisado de mandioca e peixe (“Bonito”) com mandioca
– Polvo com arroz de coentros
São Tomé
São Tomé, cuja capital tem o mesmo nome é a maior ilha, conta com uma população de 133 600 habitantes, numa área de 859Km2.
A nossa passagem pela ilha de São Tomé foi muito curta, uma tarde e uma noite. Como tal, e dado que tínhamos pouco tempo, tentámos conhecer o máximo possível. Assim, decidimos contratar um guia turístico que nos levou num passeio de carro em direção ao Sul da Ilha, tendo sido São João dos Angolares o último lugar visitado.
Para Ver
– Edifícios de inspiração barroca, como: Fortaleza de São Sebastião, Catedral da Santa Sé, Arquivo Histórico
– Museu de Arte Sacra, de interiores tradicionais da época colonial
– Fábrica de chocolate
– Roça Monte Café (em funcionamento desde 1850, uma das mais antigas onde é possível conhecer todo o processo de produção do café até à sua embalagem)
– Roça Água de Izé (é como viajar no tempo e voltar à época colonial)
– Roça S. João Agolares
– Pico Cão Grande
– Cascata de São Nicolau
– Santana
– Praias
– Lagoa Azul
– Ribeira Afonso
– Praia Inhame
– Praia Micondó
– Boca do Inferno
– Rio Abade (local onde se pode observar mulheres a lavarem a roupa no rio, para nós uma das visões mais impressionantes de São Tomé, pela quantidade de mulheres que todos os dias aqui vão lavar a roupa e pela quantidade de roupa estendida a secar ao longo do rio, nas margens, um cenário surreal)
Para Ficar
– Pestana São Tomé, único hotel de 5 estrelas, a 10 minutos a pé do centro, tem 115 quartos e o quarto duplo fica a partir de 142€.
– Omali Lodge São Tomé, hotel renovado com serviço de excelente qualidade, tem 30 quartos, a 5 minutos do aeroporto, com quartos duplos a partir de 209€.
– Club Santana Beach Resort, são 31 bungalows a cerca de 15Km da cidade a partir de 185€.
Para Comer
– Dona Teté, um espaço para provar sabores tradicionais com destaque para o peixe fresco grelhado, cujo preço ronda os 10€. Fica perto do hotel Pestana.
– Roça de S. João, um local para provar pratos que combinam sabores tradicionais com escolhas do chef, a partir de 15€ o menu de degustação. Fica em S. João de Angolares.
– Casa Museu Almeida Negreiros, um restaurante que alia a comida deliciosa com o artesanato. Fica na roça Saudade.