A Nave da Mestra, a 1700 metros de altitude, em plena Serra da Estrela, também conhecida como Nave da Barca, é um gigantesco penedo que emoldura um magnífico cenário natural. Este local, onde a montanha mostra todo o esplendor, encontra-se envolto em lendas e mistérios por causa de uma construção por baixo do penedo.
Para aqui chegar, só mesmo a pé. Existem vários percursos para atingir o vale glaciar da Nave da Mestra. Nós escolhemos o trilho que parte da barragem do Vale do Rossim, apesar de não estar sinalizado. Contudo, com alguma orientação espacial, o auxílio das “mariolas”, as marcas vermelhas pintadas nas rochas, e o track para GPS, fizemo-lo sem nos perdermos.
O percurso tem início junto à barragem, do lado direito, seguido de uma ligeira subida, de onde se tem um primeiro vislumbre sobre todo o Vale do Rossim. O caminho continua por trilhos de pastores assinalados por “mariolas”, passando pelas magníficas Penhas Douradas (a Rasa e a Ângela), até se atingir uma zona de cervunais e zimbrais, já no interior da serra. Por ser uma zona frequentada por pastores e rebanhos, avistam-se alguns abrigos de pastores utilizados durante as longas permanências dos rebanhos no planalto central da serra.
Circunda o marco geodésico do Curral do Martins de onde é possível observar as vistas em redor, como o planalto da Torre, o Vale do Conde e o Vale do Zêzere. A partir deste local, inicia uma descida para o Vale da Mestra, também conhecido pelo Vale da Barca, onde existe um imponente penedo de granito com a forma que lhe dá o nome e por onde corre um ribeiro, alargado por um pequeno açude.
Na Nave da Mestra existe uma curiosíssima construção chamada Barca Herminius que remonta ao ano de 1910. A sua construção foi concretizada pela mão-de-obra vinda de Manteigas em cima de mulas por um caminho que ainda hoje existe, ajudada por macacos hidráulicos utilizados para levantar as gigantes pedras, incluindo aquela que faz de telhado à casa
Esta obra é comprovada pela inscrição que ainda se pode ler na construção principal por cima da porta, “Dr. J.Matos – Barca Hirminius – 1910”. Segundo a lenda, a família Matos Preto mandou ali construir uma casa para as suas férias de verão. Contudo, a verdadeira intenção da habitação, para além de casa de férias, seria servir de abrigo a reuniões clandestinas anti-regime, incentivadas pelo juiz José Pereira de Matos.
Com mistérios por resolver e lendas por confirmar, a verdade é que a casa foi abandonada e, durante muitos anos, serviu de abrigo a pastores e rebanhos, tendo sido também local de descanso e contemplação para montanhistas e caminhantes.
O único facto inegável é que a Nave da Mestra se tornou um dos locais mais bonitos da Serra da Estrela e, embora pouco conhecida, vai atraindo cada vez mais visitantes.
Depois de se visitar a peculiar construção a mando do excêntrico juiz, o regresso faz-se por uma fenda natural (talisca) que existe nestes penedos, mesmo por cima do que resta da casa.
No regresso, o percurso segue o pelo mesmo traçado até uma bifurcação. A partir deste local, onde se encontra uma estaca ao alto, o trilho continua pelo lado esquerdo em direção ao Vale das Éguas, próximo da localidade de Penhas Douradas.
Em Vale da Éguas, segue pelo meio de uma floresta até chegar junto à água da barragem do Vale do Rossim. Após circundar a barragem, o trilho termina onde começou.
Informação Útil
Distância: 14,4Km
Duração: 4h 30m
Tipo de Percurso: Circular
Dificuldade Técnica: Moderada
Local de Partida/Chegada: Barragem do Vale do Rossim, Serra da Estrela
Coordenadas GPS do ponto de Partida/Chegada: N40 24.170 W7 35.246
Quando Ir:
Nem todas as estações são boas para fazer o trilho.
No verão, o clima é muito quente e como não é arborizado, não existem sombras.
Na primavera e o outono são as épocas ideais por causa dos tons da paisagem e das temperaturas mais amenas.
No inverno, é preciso ter em conta as condições climatéricas, sobretudo, a neve e o nevoeiro.
O Que Levar:
- Mochila com o necessário, nomeadamente, comida e bebida.
- Calçado adequado a caminhadas.
- Roupa adequada ao tempo.
- Protetor solar, óculos de sol e chapéu.
- Uma máquina fotográfica ou um smartphone para registar os locais.
- Um saco para trazer o lixo que, eventualmente, se faça.
Trilhos Alternativos para chegar à Nave da Mestra
Percurso Pedestre PR4 MTG – Rota do Carvão é um percurso circular com 20 km que conta uma parte da história de Manteigas e que está intimamente relacionada com a pastorícia, o centeio e a floresta. Na zona de maior altitude, a 1683 metros, era produzido carvão para venda na vila através da queima da raiz da urze, popularmente designado de borralho. A beleza da paisagem natural que o percurso proporciona, composta por matos e matagais, contrasta com autênticas esculturas naturais. Este percurso oferece ainda o bónus de permitir atravessar a “Talisca”, a fenda que rasga o gigantesco penedo.
Percurso Pedestre PR5 MTG – Rota do Maciço Central, que cruza com a Rota do Carvão. É um percurso circular com 10 km de extensão e dificuldade acentuada, já que conta com terrenos bastante acidentados. Próprio para caminhantes experientes, este percurso revela verdadeiras maravilhas da montanha, algumas ainda praticamente inexploradas e locais emblemáticos como o Covão d’ Ametade, o Covão Cimeiro, os Cântaros (Magro, Gordo e Raso), as Salgadeiras, a Lagoa do Peixão (ou da Paixão), a Ribeira da Candeeira.