#Continuandoàprocura de trilhos incríveis no seio de cenários de beleza desconcertante, em outubro de 2020, estivemos mais uma vez, na Serra da Estrela para fazer o Trilho do Vale Glaciar.
Finalista das 7 maravilhas naturais de Portugal, o Vale Glaciar do Zêzere assume-se como um dos melhores exemplos da modelação da paisagem pelos glaciares, em forma de “U”. Apesar de se tratar de um vale glaciar e por isso muito aberto, as encostas são muito íngremes, cobertas de bolas graníticas e caos de blocos, principalmente na base das linhas de água.
Percorrer o Trilho do Vale Glaciar é contemplar, ante de mais, todo o vale glaciar, desbravando um caminho de singular beleza, quase sempre junto ao rio Zêzere.
O trilho compreende três andares altitudinais (basal, intermédio e superior) e oferece uma perspetiva alargada das características morfológicas de Manteigas e da Serra da Estrela, vincada pelas diferentes tipologias de paisagem.
Sob o ponto de vista paisagístico, o trilho encerra um conjunto de valores naturais e culturais de interesse inestimável. Destacam-se os inúmeros vestígios da ação glaciária e de uma vegetação natural com espécies endémicas e outras de distribuição rara, vestígios que assinalam a presença do Homem na região desde os tempos mais remotos, presença que se reflete na forte humanização marcada na paisagem envolvente, e nas atividades tradicionais do pastoreio e da agricultura de montanha, adaptadas às exigências do território da Serra da Estrela.
O percurso tem início na Torre, localizada no Planalto Superior da Serra da Estrela com estatuto de Reserva Biogenética, um local de notoriedade, sendo o ponto mais alto de Portugal Continental com 1993 metros de altitude. Dali, segue em direção à Nave de Santo António, passando pela imagem esculpida na rocha granítica da Senhora da Boa Estrela.
Neste ambiente de horizonte amplo cresce uma vegetação arbustiva baixa e rala de onde sobressaem elementos rochosos, surgindo nas depressões, lagos, lagoachos, turfeiras e prados de montanha dominados pelo Nardus stricta (Cervum). A Nave de Santo António ou Argenteira, como também é designada, é um bom exemplo deste tipo de prados.
O trilho segue, agora, para o Covão d’ Ametade, uma depressão de origem glaciar, outrora uma pastagem de cervunal, que foi arborizado com vidoeiros ao longo das margens do Rio Zêzere, e suas linhas de água subsidiárias, para criar condições de abrigo aos rebanhos de ovelhas. É o encontro com um pequeno paraíso terrestre onde a micro-fauna e micro-flora da Serra revelam a sua formidável biodiversidade, um dos locais mais bonitos da Serra da Estrela, na nossa opinião.
A partir dali o trilho continua junto ao rio Zêzere em pleno vale glaciar. No fundo do Vale Glaciar do Zêzere é possível observar os pastos verdejantes, os rebanhos de ovelhas, as casas típicas da serra – “cortes” e a Vila de Manteigas perfeitamente encaixada no vale, local onde termina o trilho, em concreto junto à Igreja de São Pedro, em plena vila.
Todo o trilho é muito rico em elementos emblemáticos de paisagem natural, designadamente, Covão do Ferro, Cântaro Magro, Cântaro Gordo, Espinhaço do Cão (moreia), Poio do Judeu, Pedra do Equilíbrio, Covão Cimeiro, Barroca dos Teixos.
Merece especial destaque a Senhora da Boa Estrela, no Covão do Boi, a qual se trata de uma obra de arte de cariz religioso, uma escultura dos anos 40, incrustada numa rocha dos contrafortes do Cântaro Raso. Deste local é possível observar os Cântaros Gordo, Magro e Raso, afloramentos graníticos que atingem, respetivamente, 1875, 1928 e 1916 metros de altitude.
Na paisagem humanizada é ainda de evidenciar o Abrigo dos pastores e o Fontanário, na Nave de Santo António, a Fonte da Jonja, próxima do Covão d´Ametade, o Bairro fabril, junto da antiga fábrica de lanifícios e a Igreja de São Pedro, já na Vila de Manteigas.
A Estância Termal das Caldas de Manteigas é outro elemento de referência pelas suas águas sulfurosas, indicadas no tratamento de várias doenças, como reumatismo, dermatoses, vias respiratórias e doenças musco-esqueléticas.
O Trilho do Vale Glaciar encerra ainda uma fantástica biodiversidade proporcionada por espécies florísticas e faunísticas de beleza singular. Da fauna existente destacam-se a cia, a sombria, o guarda-rios, a Lagartixa-da-montanha, a cobra-de-água-de-colar, Toupeira-de-água, Gralha-preta, Truta, Truta arco-íris, a boga, etc.
Como fazemos trilhos em família com duas crianças, optamos por fazer apenas parte do percurso, desde o Covão d´ Ametade até à vila de Manteigas. Foram cerca de 9Km num total de 3h.
Informação útil
Distância: 17, 2km (Fizemos apenas 9Km, do Covão d´ Ametade até Manteigas)
Duração: cerca de 7h (como fizemos apenas 9Km, demoramos cerca de 3h)
Tipo de percurso: linear
Dificuldade Técnica: Média
Local de Partida/Chegada: Torre/ Manteigas
Coordenadas GPS do ponto de Partida/Chegada: Na Vila: 7º32’22,79″W / 40º24’00,70″N Na Torre: 7º36’44.99″W / 40º19’20.04″N
Quando Ir:
Todas as estações são boas para fazer o trilho, mas na nossa opinião, no inverno em dias de sol, é a melhor altura. Na primavera, existe muita água causada pelo degelo, mas há o colorido das flores e o renascer da vegetação. No verão, o facto de não haver sombras, pode tornar a caminhada mais difícil. No outono, os cursos de água estão sempre num nível mais inferior, o que retira beleza ao local.
O que levar:
- Mochila leve com o necessário, nomeadamente, comida e bebida.
- Calçado adequado a caminhadas em montanha.
- Roupa adequada ao tempo. É a Serra da Estrela e, por conseguinte, o tempo poderá mudar rapidamente. Portanto, convém ir prevenido, tanto para o frio, como para o calor.
- Uma máquina fotográfica ou um smartphone para registar os locais.
- Um saco para trazer o lixo que, eventualmente, se faça.
Outros Pontos de Interesse
Há muito que queríamos assistir ao pôr do sol no ponto mais alto de Portugal Continental. Assim, e aproveitando o facto de irmos fazer o Trilho do Vale Glaciar, fomos de véspera para a Serra e realizamos este desejo há muito pretendido.
Escolhemos o local que nos pareceu ser o mais indicado e ali ficamos simplesmente a ver o sol descer e a pôr-se ao longe no horizonte. Foi uma experiência memorável. O fenómeno em si é maravilhoso em qualquer sítio, contudo, ali ganha uma dimensão deslumbrante, inexplicável mesmo.
Para Ficar
Pousada de Juventude da Serra da Estrela
Localizada nas Penhas da Saúde, este espaço hoteleiro é perfeito para quem procura uma boa relação qualidade/ preço.
A pousada possui dois edifícios separados, um mais antigo, outro de arquitetura mais moderna e diversas tipologias de quartos. Ali, é possível ficar em quartos mistos, tipo camaratas com casa de banho partilhada ou em quartos duplos com casa de banho privativa. Possui ainda espaços de convívio, de trabalho e restaurante.
Nós ficamos na ala mais recente, num quarto duplo com cama extra e casa de banho privativa, um quarto simples, mas acolhedor. Pagamos 51€ para dois adultos e duas crianças com pequeno almoço que, diga-se de passagem, é muito bom.